15 dezembro 2007

O amaríssimo travor de seu dulçor

Tornou-se impossível. Dominou-me repentinamente. Não que antes fosse fraco, mas de um segundo para outro, tornou-se claro, impassível, difícil, dolorido. Latejou em meu peito, senti o sangue correr ardendo as veias, sangrando-me. Era exatamente e ao mesmo tempo não podia ser. Tremi, relutei em crer. Vi-me em guerra contra meu próprios pensamentos, tentando afastá-los, dividindo-os, censurando-os. Pare com isso. Desesperei-me, quis gritar e me contive, precisava de silêncio, ninguém pode saber. De qualquer forma, isto acabava representando tudo: eu querendo tornar tudo real, querendo dizer, fazer, falar e ter, enquanto meu corpo e minha razão me continham e seguravam, me dizendo que não, não e não. Chorei. Chorei em silêncio, quase internamente. Chorei pra mim, um pranto doído e forte, quieto e insistente. Amparei minha cabeça nas mãos, era eu, sozinha, me consolando. Os momentos passavam falhados, fortes. Sentia cada segundo se alojando em mim como um segundo que eu jamais poderia esquecer. Mexi-me desconfortavelmente, insegura. Agarrei-me a mim mesma, sem ter mais ao que recorrer. Fui sentindo o decorrer do tempo, passando com um peso difícil de suportar. Respirei fundo, deixei o ar invadir os meus pulmões compulsivamente. A calma foi chegando como conseqüencia, uma paz merecida.

Deitei-me na cama e deixei o meu sentimento se espalhar por toda a vastidão do meu corpo, por si próprio, não sou de meias liberdades. Degustei-o pela primeira vez com carinho, de um novo jeito, todo cheio de partes, de sorrisos e felicidades. Cansei de me conter e deixei-me pensar em tudo, tudo, tudo, tudo... Tudo o que eu quis, sem qualquer excessão. Sonhei com todas as cenas que minha imaginação pôde inventar, com todas as ocasiões, com todas as partes do seu corpo. Pensei em você de todos os modos, pus de lado o medo e me deixei levar com o ritmo da chuva que batia na janela. Sorri e chorei, gargalhei e mais, de braços abertos, de coração aberto, apenas sentindo tudo o que havia dentro de mim, cada pequeno espaço que eu não tinha conhecimento de quanto amor cabia ali. Sentei-me na beira da cama, com um sorriso vazio, nenhuma expressão, nenhuma palavra e nada poderia expressar externamente tudo o que aconteceu dentro de mim. Sorri por nada. Lembrei de você e do seu jeito e nada mais. Neste momento eu soube, que não havia maior verdade pra mim do que este amor, que era tudo o que eu sabia sentir. Senti-me viva e essencial. Eu sou alguém que ama.

Aceitei, por fim. Aceitei tudo, cada centímetro de amor que eu sinto, não quis jogá-los fora. E que seja amor, e que seja forte, e que doa pra sempre e traga pra mim o sorriso de cada dia. Desde sempre foi e continuará sendo o amor da minha vida, a diferença é que agora eu sei disso. E que nada mude, eu engolirei cada palavra, cada sílaba para poder estar sempre ao seu lado. E que só eu e Deus saibamos que bastaria uma palavra sua. E que eu tenha a paciência de procurar esta palavra entre as tantas que você me diz, e que eu consiga entender se ela jamais vier. Que seja um segredo, até mesmo pra mim. E que cada vez que ao me despedir eu tiver uma vontade incontrolável de dizer "eu te amo mais do que eu sou capaz e quero você pra mim" eu saiba dizer apenas "boa noite".

Boa noite.

De onde vem a inspiração?

Deitou-se no chão cansada, sentindo o peso dos ossos amarrando-a ao chão, atada à Terra num laço invisível e insuperável, como se sua liberdade, por mais que o sangue que corresse as veias a clamasse, nunca pudesse deixar de ser limitada. Faziam cócegas as formigas que lhe escalavam o corpo e as folhas dançavam, mudas, sua ritmada coreografia, não que fosse bela. Certas vezes, as folhas tentavam dizer pelo vento que lhes percorria, atrevido, o quanto queria dizer e não podiam. Mas a realização concreta da matéria de suas almas, a fria, crua, indigerível e verde clorofila não estava pronta para deixá-las dizer: recebia o Sol e todos os seus raios, mas o som... Ah, o som... Era demais pra elas.


Ainda deitada no chão, perdida se encontrando em seus devaneios, a menina sentiu então que a inspiração era para ela um tapa: batia forte, inesperada, lhe doía o corpo, as entranhas, ansiosa. E resposta era pois escolha, ou sentava-se e esperava passar, ou explodia. No fim, ficavam as marcas, mais fortes ou mais fracas, coisa de intensidade. Ou, por vezes, não ficava nada, simplesmente.