14 dezembro 2008

Amor desprovido de hipérboles

Confesso estar um pouco enferrujada, portanto tentem me perdoar por quaisquer obviedades e vírgulas inapropriadas.

• Ao som de Rachael Yamagata - Even so

[ I
love you like a brother and a friend / I love you with my whole heart until it bends / I love you like a lover until the very end ]

Faz-me sofrer sua falta todas as manhãs. E pensar nos dias futuros em que as manhãs serão preenchidas com nossos fartos cafés, leites, frutas, sorrisos e beijos. Não tenho certeza se eu nunca havia reparado antes em como o seu beijo é macio, quente e intenso, ou se ele se tornou assim com os dias que estamos vivendo agora, mas tenho certeza que estremeço com eles hoje. Tenho certeza que encontro abrigo pros meus sentidos no seu cheiro, nos alaranjados desiguais da sua barba e do seu cabelo, na sua voz, nos calos das suas mãos. Você me faz rir com as suas piadas fora de hora, você me faz rir de um jeito que é seu, é o seu riso, em mim. Faz-me sentir sentimentos inexplicáveis e indistinguíveis. É impossível pras minhas conclusões tão primárias traçar linhas onde começam e terminam o que sinto por você - são simplesmente uma euforia contínua e cheia de significado. Suas declarações nos momentos mais inapropriados, divertidos e com um tom de sempre perfeitos e escolhidos me deixam completamente sem ação.

Eu poderia observar você por horas a fio, sem me cansar. Olhar o jeito como você se move, os detalhes dos seus olhos azuis, que vão ficando verdes. É amor simplesmente porque só pode ser. São momentos, frases bonitas, olhares, toques, beijos, carinhos e cafunés espalhados num mundo comum e é um sentimento tão desigual que assusta poder ser recíproco.

Hoje a tarde, os galhos compridos daquela árvore tão comum na rua ficaram tão lindos com você... As sementinhas redondas e perfeitas enfeitariam com perfeição e seria uma cena e tanto. se pudesse ser um filme. Eu realmente ouvi os vários instrumentos daquela música do Beirut tocando e tudo parecia muito colorido e dentro do roteiro, apesar de improvisado em cada detalhe sórdido.

Eu amo você com as palavras mais profundas que eu puder pensar, com o corpo inteiro, o tempo todo, de todos os jeitos, com todas as formas e cores possíveis. Eu não sei ser mais nada e não sou boa em disfarçar. Eu realmente amo você.

Que comecem as estações, que comece a girar o mundo mais rápido - não me importo. Ao seu lado, o mundo é lindo e é meu.
E é só nosso.

13 dezembro 2008

Uma dúzia de prosas poéticas

Para mim, tudo é poesia. Ela surge como um sopro quando o vento assobia em meus ouvidos e tem forma de luz quando o Sol, ou mesmo a Lua, clareia meus caminhos tortos. As cores sujas de terras e natureza ou mesmo o contrastante azul do céu com a copa verdiinha das árvores. Pra mim, é poesia quando ele me diz que me ama, quando ele me beija de leve. Pura e destilada poesia, que me deixa bêbada entrelaçada em suas palavras sórdidas e acentuadas. Esconder-se do mundo é poesia, mostrar-se é poesia. Ela está nas cordas do violão e no vão das teclas do piano. Minha poesia se esconde por entre as cobertas quentinhas, debaixo do travesseiro, em longas narrações atrás dos porta-retratos. Minha poesia se expressa no amargo-doce do meu café com leite quente e sai pelos fones de ouvido do meu celular. Ela acha que se esconde atrás de vidros, tola, não sabe que são transparentes. Acha, também, que pode se esconder atrás das árvores, novamente tão tola, pois ela é muito maior e sempre aparece uns pedaços aqui e acolá. Vejo poesia em tudo o que é arte, considero artes em tudo, e as chamo de poesia.

Deixa a luz do céu entrar

Essencialmente escrevo. Procuro palavras bonitas e as junto tentando achar um sentido óbvio e, também, belo. Divido-me entre contos e poesias, personagens, escolhendo com cuidado o cenário, a cor dos cabelos e dos olhos, os nomes. Apaixono-me facilmente por figuras de linguagem e palavras fortes. Proibo-me de deixar de lado meu gosto. Proibo-me de parar.
Essencialmente escrevo.

02 dezembro 2008

Is this the end?


Não era a toa que eras conselheiro
Porque, meu querido Antônio Prado,
Não vejo no mundo melhor cargo
Que à seus fiéis discipulos dar conselhos.

Sentados na grama de uma quase floresta
aprendendo sobre a vida e vendo a hora voar
Vemos que agora pouco tempo aqui nos resta
E nossa história está escrita dentro desse lugar

Me diz onde mais a gente aprende a viver
Me diz que escola ensina um estudante
a ser a pessoa que ele quer ser
E não apenas decorar os livros daquela velha estante

Não me deixe esquecer as cores das paredes
como eram antes de pintar
e aqueles azulejos terríveis
espero que eles nunca queiram trocar

Cortaram o seu cabelo? É a nossa história! É tradição!
Entra um bixo burro e saí daqui um cidadão
O tempo é curto demais mas o espaço não
E a gente aprende intensamente a seguir o coração

Senhor Antônio Prado me dê um conselho,
Quando meus pés seguirem um caminho pra longe de ti
O que eu faço com a saudade que sei que vou sentir?
Como eu faço pra voltar se eu não agüentar sair daqui?

01 dezembro 2008

27 julho 2008

Eu e a Felicidade ♥

Li, Lii-Liiiiizii, as coisas lindas são mais lindas quando você está.
Nesta bela noite, as corujas malditas gritam lá fora da janela, a minha barriga ronca de fome, não está nem frio nem calor, a porta do guarda-roupas está aberta e o LimeWire está baixando Sweeney Todd. Ao som de Nando, só quero que você sorria e saiba o que eu sei: eu te amo.

Parte 1 ~ Prólogo
Fato - eu odeio aquele novo botão do orkut pra ver o perfil inteiro das pessoas. Eu gosto de ver o perfil inteiro sem ter que pedir. Hoje, como sempre, eu estava visitando o seu belíssimo perfil e ao apertar aquele botão idiota, notei que há algum tempo eu não via o seu perfil completo. Hipocrisia crônica, afinal completo é uma palavra que não nos falta.

E ver aquelas minhas palavras ali foi uma mistura de sentimentos estranhos que me fizeram abrir um sorriso enorme, de orelha a orelha, meio bobo, satisfeito. Coloquei-me a pensar.

Misturado às palavras que consegui guardar na minha memória fraca das inúmeras frases perfeitas que pensei nos momentos únicos em que temos a chance de nos abraçar (e que jamais disperdiçamos, diga-se de passagem), enfim, fazendo um belo mix de coisas inexplicáveis e em se tratando de mim, que adoro o impossível, tenho de tentar explicá-las, descrevê-las, expressá-las, nem que seja só um tanto.

Parte 2 ~ Coisas boas
Eu nunca tive medo. A distância entre sentir e dizer não existe nas minhas medidas. Mas desde que me foi atirado de maneira tão horrível esta característica como um defeito tremendo, eu tenho tentado não ser isto tudo. Não conscientemente, mas de vez em quando me parece que nada mais me afeta, como se o mundo tivesse se tornado completamente superficial ao meu ver. Nem preciso citar que isto não me agrada nem um pouco, você sabe, você me conhece. Talvez até melhor do que eu mesma.

Acontece que nesta cidadezinha aí, com você, as coisas nunca são assim. Você não tem medo, os seus abraços são sinceros e toda vez que eu seguro a sua mão mais firme é como se eu pudesse dizer tudo o que eu tanto sinto e ao mesmo tempo quase tocar o que eu sei que você também sente. De tão concreto, de tão certo, é sim, tocável. Eu sinto, eu sei.

Nossa amizade é uma combinação de fatores que eu nunca vi agual, nem sequer ouvi falar. Porque além das nossas conversas loucas, brigas e confissões, há o lado quase físico, quase psicológico - é um carinho imeeeeeeeeeeeeeeeeeenso que transborda do interior para os sentidos em forma de belos, intensos e constantes abraços e afins.

Eu sempre espero demais das pessoas e você é uma das poucas que ainda consegue superar expectativas - me surpreende, me encanta.

Nunca entendi bem esta história de pra sempre, vários dos meus se desfizeram sem me pedir licença e como já dizia a sábia Sandy: O que é imortal não morre no final, o que prova que o meu conceito de sempre é um pouco errado. O que eu sei, o que eu tenho certeza é que eu vou rezar e fazer de tudo pra que isto tudo seja pra sempre.

Parte 3 ~ Nem tão boas assim
Você já deve ter notado que eu gosto bastante de tomar partido, ficar em cima do muro me dá alergia, ataca a minha sinusite. Mas hoje eu vou contrariar as minhas próprias regras. Não vou dizer que se vocês voltarem a ser amigas eu vou abraçá-la e amá-la como se nada tivesse acontecido, porque eu não sou o tipo de pessoa que mente. Nem pra ela e muito menos pra você. Não, não quero que você vá atrás dela, não quero que diga, escreva ou telefone. Nós duas sabemos e o mundo todo sabe que isso não é amizade, mas mesmo assim é difícil de ver, eu sei.

Mas se ainda assim você quiser, se ainda assim você conseguir acreditar, faça. Faça o que você é tão boa em fazer - não tenha medo, Li.

Diga, escreva, grite, digite tudo e telefone. Seja ridícula. Todos vão dizer sobre o quanto você está sendo ridícula, inclusive eu, mas vá em frente, assuma a culpa, ofereça a outra face. O máximo que pode acontecer é você ficar igual ao Luxa naquela pior fase dele, sofrendo daquela mesma doença, mas tudo bem, eu gosto bastante do Luxa.

O caso é que você só vai entender tudo o que eu tento tanto dizer quando você sentir, quando forem suas próprias decepções. E no fim o pre
ço nem é tão grande pela lição aprendida.

Se a sua esperança for grande o bastante pra s
ofrer isso, não desista. Caso contrário, deixe tudo como está - as mudanças naturais são muito mais lentas do que as humanas, porém ocorrem com muito mais perfeição.

Segundas, terceiras, décimas chances são (na maioria das vezes) inúteis - as pessoas não costumam mudar, mas eu espero do fundo do meu coração que você tenha mais sorte do que eu nisto. Se você quiser ir em frente, a minha mão estará sempre estendida pra você. Você terá a minha alegria se der certo e terá o meu apoio se não der. Trate de medir bem esta sua esperança, mocinha.


Parte 4 ~ Epílogo
Independentemente dos meus conselhos serem úteis ou não, nem que eu enumere suas qualidades numa lista gigante, mesmo que eu esteja sempre com você, aconteça o que acontecer...
Ouça - eu não quero que você me agradeça por nada.



POR VOCÊ EU FARIA ISSO MIL VEZES.
(O caçador de pipas - Khaled Hosseini)

29 junho 2008

Prazo final de uma fase ruim [parte 8]

Tentou disfarçar a curiosidade, mas não pôde. Abriu o livro, quis não notar o bilhete jogado ali, em cima dos sachês de açúcar. Sim, lembrava-se dele, sobre ontem, na verdade, lembrava-se muito. Ele a olhara naquele instante com uma inocência tão intensa que a despia. Ela respondeu com um oi, que quis ser com um tom de vamos nos sentar aqui e conversar por horas, mas que ao tentar se conter acabou saindo amargo demais. E sentira aquele gosto ruim na boca durante a tarde toda, culpava-se por tê-lo afastado. Sentira-se muito ruim, mas não queria ceder a ele todos os privilégios, pois não estava bem já há alguns dias. Sentia-a completamente alheia ao mundo - sua arte não rendia, suas palavras não a impressionavam, seus desenhos não expressavam o que ela gostaria que eles expressassem. Nem sequer ao tirar fotos ou ao se vestir ela estava obtendo sucesso nesses dias. Era como se aquela nuvenzinha cheia de raios e chuvas pairasse sobre a cabeça dela. E quanto mais tentava acreditar que não era nada disso, mais coisas ruins chegavam pra provar que sim - era uma fase péssima.

Ao vê-lo sentado naquele café, aquelas horas da manhã, pensara em um milhão de coisas, mas como não gostava de se iludir, continuou seu caminho, sentindo um aperto estranho no peito. Começou a respirar com uma certa dificuldade e por isso achou confortável abraçar o irmão - ele sempre a fazia sentir melhor em momentos assim.

E agora essa? Bilhete? Bilhete?! Qual é? Parecia uma criancinha, finjindo que não via o bilhetinho em cima da mesa. Pegou o seu Nokia 5200 e colocou os fones, mas logo se entregou porque a primeira música que tocou era o Marcelo Camelo dizendo: "cola o seu desenho no meu, pra ver se coooo-olaaa". Era demais.

Jogou os fones na bolsa sem cuidado algum, contrário do que era seu costumeiro com eles, afastou o prato e puxou o bilhete com a ponta dos dedos para sua frente. Espiou com o canto do olho o moço na mesa. Ele a olhava fixamente e nem sequer disfaçou quando a viu olhando. Afastou os cabelos do rosto com a mão e abriu o bilhete, com delicadeza estridente.

Gelou ao ler, aquelas frases quase sem sentido, mal escritas, com caligrafia desregular - ridículo.
Ridículo, ridículo, ridículo.

De alguma maneira, não menos ridícula, ela entendera exatamente. Exatamente. O coração batia descompassadamente e com freqüencia impressionante. Sem prévias, seus pensamentos desapareceram, não pensava em absolutamente nada - ridículo...

17 maio 2008

Ponto de vista amarelado [parte 7]

Como boa menina amarela, Beatriz era boa em lidar com as pessoas, mas este Jonas... Ele era fascinante. Falava pouco e sempre tinha um olhar distante, desatento. Cada fio de cabelo dele transparecia uma verdade incontestável que ela não se sentia capaz de descobrir. Estar com ele era como um grande lago de areia movediça e ele teve de sair logo para não se afogar completamente. Era como se a voz dela ecoasse perfeitamente em cada sílaba e ele fosse um pato.

Entregar o bilhete do estranho para Liz fora uma escolha fácil, pois sabia que a amiga não gostava de gente comum e via claramente toda a história que podia se desenvolver a partir deste guardanapo de papel rabiscado com uma tinta barata. Bia era boa com palavras e estava serelepe com a incógnita de que as palavras certas naquele papel poderiam fazer Liz se apaixonar porque ela nunca (NUNCA) vira Liz apaixonada por ninguém.

Depois de deixar o tal bilhete na 3, correu para o caixa e pediu para Jú trocar com ela um pouco. Era extremamente curiosa e esta se tornara uma questão de seu interesse. A menina amarela assistia com felicidade a paixão alheia, de sua visão amarela das coisas. Dali, a vista era ampla. Perfeita.

15 maio 2008

Moody's mood for love [parte 6]


C
hegara cedo demais. Seus sentimentos já não eram mecânicos e controlados como outrora, mas sim intensos e descompassados. Tão descontrolados quanto as batidas de um coração emocionalmente jovem e despreparado quando avistou, virando a esquina, os cabelos ondulados cor de laranja que estranhamente combinavam com a maior perfeição com o All Star azul bebê e com a cor do céu e todas as suas fofas nuvens daquela manhã.

Ao contrário do que imaginara que aconteceria, ao passo que ela se aproximava, aproximava-se dele uma grande dose de paz e calma. Havia alguma coisa no tom daqueles tantos azuis que neutralizava o vermelho dos cabelos que o faziam arder.

Era aquele gingado de menina da praia andando no cimento que o enlouquecia. Alguma música inevitavelmente começava seguindo o balanço ritmado daqueles quadris largos - desta vez uma bêbada dizia com sílabas mal pronunciadas I'm really feeling in the mood for love, cantava muito bem.

Ela olhou diretamente nos olhos dele e deu um sorriso de canto de boca. Teria o reconhecido? Teria sido tão importante pra ela aquele breve momento quanto pra ele? Num dia comum seria importante encontrar um estranho de manhã? Era uma perspectiva diferente, ocorria somente agora à mente cru de Jonas que a moça tinha um nome, uma história, e toda uma vida alheia à dele, além do breve momento em que se viram. Talvez ela tivesse até um namorado...

Jonas se sentou em uma mesa dessas que ficam do lado de fora dos cafés e esperou. Aquela comunicação visual significaria que era hora de conversar? Ele tinha uma certeza incontestável de que ela começaria alguma coisa, mas quando os olhos dela se afastaram dos dele, foi um choque. Passou reto... Tão perto que ele pôde sentir o cheiro bom dos cabelos mal arrumados. Virou abruptamente e entrou no café.

Seria, então, uma estratégia, segundo pensou. Estando ali, poderiam conversar, e ele entendia, pois também se sentia tímido.

Mas a menina parecia alegre e extrovertida, logo deu um abraço forte no garçom e beijou-lhe o rosto. Sentou-se numa mesa lá dentro e abriu um livro grosso. Nem olhou mais na direção da mesa 11, nem tentando disfarçar. Deu uma olhada rápida no cardápio, e disse algo para o homem que abraçara, que riu e, com um sinal afirmativo, virou as costas. Em alguns minutos, trouxe um café com leite grande e uma caixa de mini pães de queijo. Ela fechou o livro, prendeu os cabelos com um laço azul escuro e tomou um gole. Jonas ficou observando, paralizado. Levou um susto quando uma garçonete parguntou se ele gostaria de alguma coisa.
- Você pode entregar uma coisa pra'quela ruiva?

Não tirou os olhos dela enquanto falava, a garçonete mostrou os dentes amarelados, tão amarelos quanto ela toda e seu cabelo amarelo e sem graça, liso e previsível.
- Tome cuidado com a Liz, querido.

Jonas desviou os olhos.... Liz? Ficou olhando a moça rir, inquieto. Aquela felicidade era incômoda e incompreensível para ele, assim como começou a incomodá-la também aquele olhar. Parou de rir, como que por obrigação.

- À propósito, meu nome é Bia - disse, estendendo a mão e sentando na cadeira vazia a frente.
- Jonas.
- Você conhece a Liz? ... Jonas?
- Ainda não.

Depois de um segundo difícil em que as palavras fugiram para ambos, Jonas apontou para o garçom que trabalhava distraído e perguntou:

- Quem é aquele? - quebrou o silêncio sem querer, pois não o incomodava, mas incomodava à menina amarela, que se sentiu aliviada com as palavras poucas.
- Irmão dela, Léo.

Só então tornaram-se notáveis para Jonas as mechas alaranjadas na cabeça do galã de camisa social. Para ele, ainda escapavam os detalhes.
- Você tem uma caneta, Bia? - perguntou, pegando um guardanapo de papel.

Escreveu rápido, dobrou e colocou na mão dela, que piscou e saiu rápido para a cozinha, no caminho, deixando o bilhete em cima da mesa de número três.

12 maio 2008

Alguns certos dias têm cara de vida inteira [parte 5]


Antes de se deitar, Jonas comeu uma maçã. Ela estava na fruteira já há vários dias e aproximava-se o fim cruel de apodrecer ali, sem alternativa, mas Jonas devorou-a com fome de uma ansiedade que não passava. Novas forças nasciam para ambos, de diferentes formas.

Aquecido, num travesseiro fofo, abraçando um grande urso marrom, custou a dormir. Via flashes daquele dia interminável e o tic tac do relógio batia com peso em sua leve dor de cabeça. Às 23:59 vidrou os olhos no relógio por exatos dois minutos e quando teve certeza absoluta de que um novo dia havia começado, sentiu um arrepio. Os pensamentos se dispersaram com rapidez, e o garoto apagou a luz do abajur para se entregar à escuridão de brancos momentos em que já não se pensa mais em nada.

20 abril 2008

Pequenas vitórias [parte 4]

Conseguiu voltar para casa gastando o preço de só um passe no Bilhete Único. Era o peso de mais uma vitória em suas lutas particulares e significava muito, sentia-se capaz e era o bastante.

Tomou um banho, deixou a água correr pelo seu corpo, que estava muito sujo. Colocou umas roupas de algodão, de cores claras e bem largas pra ficar à vontade. Enfiou-se dentro de uma caixa grande em seu quarto pra pegar umas coisas e espalhou na mesa da sala réguas, lapiseiras, canetas, estojos, calculadoras e papéis em branco. Começou a desenhar a rota que fizera de manhã quando encontrara a menina com a maior precisão possível. Passados alguns minutos, riu de si mesmo: não havia fórmula para encontrá-la de novo. Mesmo assim tracejou a rua por onde passara com caneta vermelha e fez um xis grande no lugar onde a vira, no lugar certo. Riu, largou a caneta, deitou-se por cima de toda aquela papelada inútil (que em breve iria para a reciclagem) e passou o dedo indicador da mão esquerda na superfície daquele xis.

O frio na barriga não o deixava desde cedo e sentiu certa náusea ao fechar os olhos, logo se imaginou um capitão pirata sobre seus velhos e empoeirados mapas, viu seu copo d'água como uma taça de rum - era um pirata em busca de um tesouro perdido e tinha um mapa para encontrá-lo! Um mapa marcado com um xis vermelho. Riu de si mesmo de novo, estava feliz. Continuou acariciando o nada detalhado esquema - tateava cada fibra do papel como se pudesse senti-las, ou como se pudesse senti-la ali. Ele desenhava as curvas do corpo dela na imaginação, passando a ponta dos dedos levemente sobre o quase abismo que causara aplicando sua força com a caneta vermelha no papel. Excitava-se em pensar nela. Colocou a mão direita entre as pernas e ficou ainda alguns instantes completamente entregue à idéia de conhecê-la completamente.

Então alinhou sua coluna ao encosto da cadeira, com a respiração ainda ofegante apoiou o cotovelo na mesa e a cabeça nas mãos. Depois endireitou-se novamente, passou a palma das duas mãos sobre a folha que desenhou e logo em seguida a rasgou no meio, amassou e arremessou em direção ao lixo, do outro lado da sala.

E acertou. O dia fora, realmente, composto de pequenas vitórias.

Voltou aos papéis, rabiscou o rosto dela com um lápis 6B, mas lhe fugiam os detalhes. Levantou-se e pegou um cd no raque, pôs no rádio e apertou o play. Fitou o próprio reflexo no espelho atrás da garrafa de vinho espanhol que ganhara anos antes do irmão mais velho. Sorriu.

19 abril 2008

Um pouco mais de sinestesia, um pouco menos particular - a continuação da história de Jonas [parte 3]

Ainda no ônibus Jonas não fazia idéia de para onde aquelas ruas (ou o destino, se preferir uma visão mais poética) o levariam, sequer sabia se gostaria de ir - acabara de notar uma série de coisas que desconhecia, o que destruída em parte sua fantasia e o derrubava numa realidade de concreto, que de tão hipotética, fria e inanimada, fazia doer. Sentia-se cru, insano, insensato e inocente. A desconexão de pensamentos despertou uma raiva incoerente e generalizada que o fez franzir o cenho. Engoliu seco, sentindo pela primeira vez na vida, a insatisfação e a completa falta de liberdade em ser e toda a limitação que isto traz. Como conseqüencia óbvia, já não sorria há vários minutos, por isso já não parecia nem tão bonito, nem tão encantador.

Deixou-se quieto um instante, respirando. Esqueceu. Até tentou olhar, sentir e ouvir a verdade cimentada em sua frente, mas não pôde - ainda não sabia que precisava de óculos. Deixou ficar a cicatriz do que agora sabia e voltou a ser quem sempre foi. Talvez agora com tal fio de cabelo branco entre seus tantos. Sorriu e sentiu-se leve de novo. Pensou naquela garota de outro jeito, com outros ares e se apaixounou pelo que imaginou. Aquele cabelo mal-preso... imaginou que ela certamente não seria a mocinha numa história - ele odiava as mocinhas. Até que tentou pensar em não vê-la novamente, mas se esforçou daquele jeito frouxo, de quem faz só pra não poder dizer que não fez. Sabia que seria difícil encontrá-la, falar com ela talvez fosse difícil demais pra ele... sabia, mas não pôde deixar de enfrentar o que estava por vir, mais uma vez. Sentiu-se forte e corajoso por não fugir. Era uma certa vitória antes mesmo de ser.

Afastou os pensamentos porque começou a ficar com medo, as pernas tremiam e a barriga gelava - não se contia. Levantou-se abruptamente, deu sinal pra descer. E desceu, pisou na calçada com seu All Star bege, sentindo as pedras do chão de um lugar desconhecido e era, sim, aquele novo caminho de uma vida completamente desorientada que Jonas queria trilhar.

15 abril 2008

Miss Magic, you musn't be through the smoke


Miss Magic woke up that morning feeling her eyes against her - they didn’t want to be opened. She set in the bed and looked at her feet, completely unsatisfied.

- Okay, today we can walk a bit, darlin’

She was alone, again. She put herself in her knees and her mind interposes her feelings – it’s not time to cry.

She stared at herself likeness in the mirror. She pities the world by having her around. Everything was unpronounceable. Big shadows around the eyes, she better doesn’t have the sense of smell, the room was terribly stinking. So she does.

The despair of her soul softy went away. She opts to don’t hate herself for what she had being these times. She opposes destiny with some optimism and thought:

- Go ahead, Amy… Things are just going to get better.

And yes, she knew she had everything in hands.

I want you to see, Amy... Listen to your voice while you're talking, deep breathe while you're writing, do you still remember how did you do it in Frank? You are the same girl in the melody, but where have you get these lyrics from? Oh, what are you thinking about life? I want you to be grown, exactly like you think you already are, but you're not.

Sleep again - you can dream, you can be yourself and everyone who cares for you will still loving you.



Take care.
I love you.
Yes, I really do.

07 abril 2008

Best best best best


Você é completamente essencial.
Você sabe de todos os meus detalhes sórdidos, você ouve todas as minhas histórias, sejam elas boas ou não.
Se eu convivesse comigo mesma o tempo todo, certamente eu brigaria comigo. É mais ou menos isso que acontece, não é?
Má, obrigada por ser um pouco eu, por me agüentar, por dividir a marmita, as crises de riso, os olhares de "eu sei", as brigas. Obrigada por me fazer chorar com palavras, me fazer rir com gestos e me confortar com abraços.
Você é a minha definição de amizade, em poucas palavras. Se bem que pra definir você poucas palavras não bastariam, mas me fogem os detalhes.
Perdoe-me pela imprecisão, pelo jeito bruto e simples de dizer, mas eu já não sei mais dizer se nós somos opostas ou idênticas, mas o que importa é nós sabemos nos completar.
Eu amo você imensamente.

Conexões lógicas


Naquela noite, em especial, a lanchonete de esquina parecia muito mais bonita. O céu estava escuro como nunca e depois de um tempo começou a ficar frio demais também. Mas os dois riam incessantemente enquanto bebiam seus grandes sucos. Nem o maracujá com leite a faria dormir, mesmo que ela tivesse acordado cedo e não conseguido dormir nem um pouco à tarde, mesmo com o sono adolescente dela, o coração adolescente prevalesceu. De todos os assuntos, nenhum deles fazia o mínimo sentido e não tinham conexões lógicas. Eles riam muito e o tempo todo. Os bêbados eram incômodos porque eles não sentavam e falavam alto, mas nem isso os aborreceu.

Pediram a conta com desgosto porque era sinônimo de ir embora. A garçonete trouxe com um sorriso no rosto. O garoto não deixou a menina pagar e quando ela prostestou ele disse:

- Então na próxima você paga - e riu.

A garoçonete gostou do tom da voz dele e do brilho dos olhos dela. Lembrava de si própria quando tinha essa idade. Riu, compartilhou um pouco do heroísmo amoroso de ambos e falou, com ar de deboche:

- Da próxima pode ser que fique mais caro.

Esperto, divertido, com um sorriso lindo no canto da boca:

- Psiu! Essa é a minha tática.

22 março 2008

One one one one one

Desabafos não são belos e menos ainda interessantes - são o vomitar das borboletas do estômago.

09 janeiro 2008

Lizi Lizi Lizi ♥


Estava aqui em minha casa, perdida entre essas muitas revistas bobas de fofoca de gente famosa, procurando uns recortes para fins obscuros. Foi então que me deparei com uma pergunta aparentemente bobinha, mas que fez o estômago faminto do meu blog roncar por algumas palavras. O QUE É AMOR PRA VOCÊ?

De primeiro veio a resposta de que eu não tenho certeza. Não sei se a minha mania louca de procurar as pessoas mais difíceis e tentar entendê-las é exatamente amor, não posso afirmar, por mais que eu ache um monte de coisas sobre isso. Eu não posso ter certeza se eu amei os caras que eu namorei, alguns dos amigos que eu tive, eu sei que eu gostei muito deles, muito mesmo, mas quando tudo é tão passageiro... Isso é amor?

Não demorou muito pra eu perceber que algumas coisas eu realmente tenho certeza, que eu não teria medo de afirmar. Que amor é isso pra mim. E nesta pequena e seleta lista de pessoas e coisas, você está em vários pontos, lá em cima, entre os melhores, presente constantemente nos momentos que eu me acomodo no sofá pra lembrar e só. Porque amor pra mim é poder abraçar quando dá vontade, é ser carente e poder pedir mil vezes pra fazer bhuuuuu e não receber nenhuma cara de desprezo em troca. É ter uma amiga que eu sei que vou poder contar sempre, mesmo que fiquemos um ano ou mais sem nos vermos, quando nos virmos, tudo só vai ser melhor que antes. É querer dormir abraçada com ela, mesmo que ela ronque bem alto no meu ouvido durante a noite toda. É poder encostar a cabeça na dela e querer fechar os olhos pra saber se amor tem cheiro. É ter certeza. É chorar pela saudade que ainda vai surgir, mesmo quando faz cinco minutos que nos despedimos. É abraçar forte, jogar pebolim, bater, xingar, pular, jogar na areia pra fazer croquete, fazer montinhos bizarros, cair, dar e levar empurrinhos, ficar na boléia por horas sem vergonha do saquinho de areia no biquíni depois. Amor é dormir de mãos dadas, é ela me fazer rir depois de contar uma coisa difícil. É descobrir que eu gosto mesmo é de deitar em sofás apertados, em vans lotadas, ficar com a perna latejando e a bunda quadrada, eu gosto é de levar isopor com a comida e juntar uma legião de patos eufóricos. Eu não gosto de muito conforto, porque o amor é, por si próprio, desconfortável.


Amor é pegar gripe e lembrar dela quase todas as vezes que o nariz escorre, apesar de ela odiar caca de nariz. É achar a internet chata quando ela sai do msn, ou do Skype. É olhar o orkut dela todo dia, mesmo que seja só pra ver mesmo. É lembrar de cada abraço, de cada vez que a gente trocou aqueles olhares tontos e deu risada, de cada piada tonta, de cada brincadeirinha, dos detalhes de tudo. É cortar os climas loucamente e isso não ser uma coisa ruim, muito pelo contrário. Amor é a dor gostosa que a gente sente quando tem essa saudade imeeeeeensa... Ou o alívio quando a gente pode se ver de novo. E sentir mais uma vez aquele abraço, aquela sensação reconfortante que é saber que ela simplesmente está ali. Amar é lembrar dela, mesmo com as frases mais tontas das revistas mais tontas. Amar é isso pra mim, é simples, é lindo. E não há dúvidas: É perfeito. Você é exatamente tudo aquilo que eu preciso que você seja.

EU AMO VOCÊ, Li.
Muito, sempre, loucamente e tudo.
E é pouco ainda.