30 dezembro 2009

Frases perdidas num mundo de gritos

Já não me canso do meu vão desejo, nem o nego - unimo-nos por completo.
- Eu não sou forte o bastante, querido.
Ainda sinto a textura daquela língua quente que me invadiu a boca. Eu quis beijar-lhe a alma e o corpo inteiro.
- Mas é pecado, não é?
Meu coração me aperta, cada músculo se dissolve em arrepios frios. Está claro: no maxilar, no estômago, no formigamento dos dedos dos pés.
- Ela tocou a minha guia, Orixá. Retrocedeu minha Boa Esperança pras Tormentas e de Gigante, cadê?
Ah, me deixa vadiar... Esquecer o que há pra fazer.
- Meu desespero é lento, pai. Minha esperança é frouxa.
A sua maciez entrelaçada na acidez que contem tudo o que me é perfeição:
- Toda vez que eu fecho os olhos te preciso, amor.
As marcas da minha oralidade no que deveria ser formal. As cicatrizes de infância e as marcas que você me deixou.
- Cadê você agora?
Na busca eterna do que é divino, Deus, seus filhos não deixam o que é céu passar como fosse nuvem?
Aos pés de Tupã desapareço no abismo que sou e que só posso ser. E sou o quê senão entregue? Sou carta? Serei lida?
- Desculpa se não há mais lágrimas embaçando a visão.
Bate no tambor com toda a sua força, nêgo. Surdo, mudo, cego, insano.
- Obrigada, amor.
Eu cheguei no mundo sem nada, hoje me pertencem meu corpo pecador, meu coração desobediente cheio de sangue e amor; e todos os meus pensamentos entorpecidos.
- Eu vou embora.
E tudo o que me pertence vai comigo.

25 novembro 2009

Quanto é o ingresso?

Eu a observava de longe, num canto escuro, enquanto ela era pura luz. Enfeitava-se nos finos raios de Sol que irradiava e brincava com o corpo numa frenética insistência de me fazer não resistir sem saber. Eu confesso - nunca fui um bom homem. Eu não acredito na transformação. Tudo o que sou, ontem eu guardava, mas aqui estava, já bem preso nas entranhas de mim.

Ia soltando meus podres ares entre copos de cerveja e as fumaças de cigarros alheios. Quis fumá-los todos e me embriagar com as mais ardidas bebibas que me queimassem a goela. Que me fizessem sentir fisicamente o que eu já estava sentindo, pra ver se, quem sabe, não passava. Mas não passava: eu nunca fui um bom homem. Meus olhos a seguiam de canto em canto, sem perdê-la um instante sequer, a guardá-la na retina, no cérebro, n'alma, a tatuá-la na memória. E me estremecia o corpo - mau homem, má insistência, má desistência. Escolhas euforicamente enganandas, vesgas, embaçadas. O nó da garganta espreitava boca afora, e a ânsia do estômago tinha ímpetos de fazer o mesmo. Era um sentimento puramente físico que se apossava de mim. Os goles se tornavam sem gosto e meus olhos ardiam. Estaria com febre, talvez? Sentia arder a nuca, o pescoço, o corpo todo.

Mas estava decidido - eu nunca fui um bom homem. Um bom homem não sentiria aquilo, não desejaria com tanto calor. Um bom homem elogiaria a beleza dos olhos da moça, enquanto eu me afogava em outras belezas muito menos dignas. O álcool barato já me doía a barriga e a cabeça, mas os olhos nem piscavam. Era um espetáculo: as luzes coloridas voavam pra todos os lados pra acompanhá-la. Minhas mãos formigavam. Era um espetáculo para um homem ruim. Pra um homem ruim se desintegrar em física paixão, pra eu me afogar, me desfazer, estremecer.

Ela dançava, reluzia seus encantos pro mundo sem vergonha, enquanto o mundo não sentia vergonha alguma de recebê-la, também. Ela falava, cantava, dizia, dançava e andava. De um lado pro outro, num ritmo inconstante e incoerente.

Até que tudo rompeu-se, deixando-me inquieto e deslocado. A cena acabou. Meu corpo ficou numa inércia desesperada, na esperança da volta. Os olhos perderam o foco, fiquei distante, perdi a concentração. Onde estaria? Onde estava? Onde estará? Não haviam mais olhos, nem corpo e o desejo se esfregava nas mãos, tão perdido quanto eu, sem saber pra onde ir. Tão forte, tão destinado e sem rumo.

Agora só me restava a certeza de que eu não era um bom homem. No meu palco, nada mais havia. Um mau homem, sem motivo, sem reação. Eu era um mau homem sem com que ser mau. Mas agora eu já sabia o que eu era e não tinha mais volta. Eu descobri o que havia numa parte desconhecida de mim. Uma vez descoberta, agora estava a mostra. Levantei-me da poltrona e saí, sem notar que as luzes ainda estavam acesas. Pra mim, elas já não estavam.

24 novembro 2009

Dear J,

Hoje o clima não está pra desenhos. Passei a tarde enfurnada no quartinho de costura e já usei todos os retalhos que você comprou pra mim nas férias. Quero mais estampas floridas e ainda não aprendi onde encontrar aquelas bolinhas coloridas sem você. Eu lhe fiz um estojo pra guardar suas canetas pretas. É que elas são tão insaturadas, J, precisam de alguma cor pra sorrir um pouco. Você paga se eu enviar pelo correio pra você ou prefere que eu lhe entregue quando você voltar?

Acabaram os botões amarelos, talvez porque eu tenha um apreço incrível em usá-los em todas as peças que costuro. E estão sobrando os verdes, não comprarei novos (por enquanto). Você prefere os amarelos? Estava pensando em lhe fazer um desenho. Pensei em pintar um quadro, mas quis escolher antes uma cor e não sei. Eu nunca sei. Você escolhia, quando estava aqui.

Eu manchei minha saia listrada ontem - não fique bravo comigo. Acabei lavando a bendita junto com os lençóis. Não deu certo. Mas tou pensando em transformá-la em uma bolsa, não sei ainda.

Passei a noite pensando nas flores que você me enviou. Você exagerou nas cores delas pela falta do que escrever no cartão? Ainda disserto comigo mesma sobre a distância estar dissipando ou aumentando o nosso caso. Eu sinto sua falta ao meu lado na minha cama quando acordo, mais do que quando me deito. Acho que nossa paixão acabou, J. Agora ficou esse amor frouxo das primeiras horas de Sol. Mas ainda tenho aqueles pensamentos temáticos sobre os quais conversamos outro dia ao telefone.

Quando você voltar, traga o calor da euforia com você, por favor.
Perdoarei que você se esqueça de todos os outros pedidos.
Menos este.

F.

17 novembro 2009

Sieg Füher

Eu lhe quis de volta pra encher meu ego, pra me dizer coisas bonitinhas. Eu me aproveitei de você, do seu corpo, do seu amor. Testei seu sexo, sua força, seu lirismo e sua voz. Eu lhe deixei rouca, frouxa, morta e murcha, com os cabelos revoltos. Sem roupas as pessoas perdem o orgulho. Eu lhe observei com olhos duros e disfarcei com um sorriso bobo. Fiz umas piadas e desfiz o seu medo. Eu lhe fiz desperdiçar dias, meses e palavras inúmeras, depois lhe coloquei de volta na minha caixinha e guardei com carinho dentro do guarda-roupa. Eu enxuguei as suas lágrimas com as costas das mãos e lhe deixei de molho. Pecado, né? Tão bonitinho esse seu corpo, seu estilo ingênuo de gente que finge que sabe o que quer... Suas cartas quase que tiram uns sentimentos de mim. É pecado lhe deixar de lado, mas não tem muita graça, o seu barato é pouco e o nervosismo que você sente quando me vê me deixa um pouco enjoada. Você não é loucura, você não é paixão, você é meio água com açúcar. Pro meu jogo de amores, você ainda é café com leite. Pingado. Em copo de cerveja de bar, daqueles que não valem nada. Falta muito amor próprio, eu não quero o seu romancezinho de novela das seis. Sem contar que você sempre volta, então tanto faz. Eu posso ter e não ter, só estalando os dedos. Você nem sabe estalar os dedos. Isso faz você perder toda a graça, sabia? Você é tão judiadinha e a minha fúria por falta de amor fica louca pra lhe passar uma rasteira com gostinho de Holocausto de vez em quando, só por diversão. Vez em sempre, na verdade. Eu não faço por mal, você é que vem, você é que escolhe me encher de bajulações desnecessárias e eu, sinceramente, acho uma graçinha. É engraçado: esse tanto de gente super apaixonado por você, mas cê curte sofrer, né? HAHAHA Tô ligado. Mas tudo bem, pra sofrer é comigo mesmo. Ah, sei lá, meu, espera mais um pouco ai... Quem sabe um dia eu não decido pegar você de novo?

25 outubro 2009

And nothing else compares

A música é um passo pra completa insanidade. Quando ela invade os nossos ouvidos, o sentimento se une ao físico e nós nos tornamos seres entregues, completamente preenchidos por acordes que nem sequer sabemos quais são. Nos cinco minutos enquanto vibram nossos tímpanos, são os cinco minutos mais perfeitos de nossas vidas, durante os quais nada nos falta. Nossos sentidos se entregam a falta de razão, nossos atos os seguem, inertes. Tornamo-nos uma massa compacta, complexa, desconhecida, concentrada. A música nos faz ser uma coisa apenas, dentro da qual cabe tudo o que se existe pra ser. A música expõe nossos corpos ao delírio. Ela faz de mim o que eu sou, e faz de mim o que ela bem quer. Meus cinco minutos de completa inércia a você, querida, vão se prolongando e tornando-se horas, dias, meses, vidas. De minutos em minutos em que o meu corpo é seu, meus atos e meu pensamento, completamente absortos em suas entranhas, entrando aos poucos pelas minhas.

07 outubro 2009

It's a mess but it's workin'

Em um belo dia de calor, assisti O Fabuloso Destino de Amelie Poulain e fiz uma descoberta. Uma grande mudança na minha vida, os sorrisos brotaram com a facilidade de um matinho frouxo que se arruma em qualquer canto de calçada. Por muito tempo, essa descoberta me bastou. Meus dias foram completos por ela, em todas as lacunas, lá estava.

Mas quanta coisa há no mundo? Entre todas as coisas que existem, quantas? E de um modo franco, o mundo foi abrindo seus ramificados caminhos a minha frente, tudo eu desconhecia. Minhas fantasias coloridas e perfeitas foram desabando, me ferindo internamente com seus tijolos pesados. A descontrução me desconcertou. Encontrei-me novamente, em pedaços, desconexa. A fé em minha antiga descoberta brilhava quase sem luz e ia se apagando gradativamente. Ela era o que antes me unia: a cola que juntava o que havia por dentro com o exterior de mim.

Antes de me perder completamente, porém, por sorte, conheci Leónie. Entre uma página amarelada e outra, o naturalismo me abriu a mente para o ideal Amelie Poulain mesmo entre as relações mais animalescas. No desejo natural, no instinto, na realidade dura e complexa, existe um ideal de felicidade também. Foi tão simples: minha descoberta estava reestruturada. Enterrada no cimento das realidades concretas também é possível encontrar quase as mesmas deveras felicidades de outrora.

É aí que entra a minha visão da semelhança incrível entre Leónie e Amelie - ambas, através dos séculos libertando as pessoas de suas vidas medíocres e trazendo a felicidade, seja como for. Quando eu crescer, aprenderei a ser como elas. Escrevam o que digo!

12 setembro 2009

Por que os gatos?

I. Eu sou cinqüenta por cento você. Posso ver na sua foto as minhas olheiras e a minha boca. Se eu lhe conhecesse, talvez soubesse o quanto mais. Você é a lágrima que eu segurei e a lembrancinha comemorativa tão importante que eu não tive pra quem entregar. Você é o meu final de semana inútil e entediante repetido anualmente e os anúncios da TV pelos quais eu alimentei um ódio reprimido. Só agora eu vejo. Você é o meu não ter pra onde fugir - você não me causa nada, mas agrava o meu desespero, quando ele me vem. Ainda assim, metade do que há em mim veio de você. Mas qual metade? Você é o músculo que me falta, a força que eu não tenho. Você é a rejeição em mim – eu me privo de sentir a sua ausência tanto quanto você pôde me privar da sua presença. Você é o meu refinado gosto por tudo o que é ruim, você é o meu pecado, simplesmente por não caber a você nenhum dos pronomes possessivos na primeira pessoa que eu insisto em colocar mesmo assim. E apesar de tudo isso, a metade há ainda. Eu lhe perdôo por ser fraco, por ser homem, por ser desonesto, medroso e um tanto quanto desleal. Eu lhe perdôo pela sua imperfeição e por toda a imperfeição que você me causou – genética e emocionalmente. Eu lhe perdôo pela falta de vontade, pela falta de estudo, pela falta de caráter, pela falta de determinação. Eu lhe perdôo porque eu sou fruto da sua falta de verdade, da sua irresponsabilidade e da sua impureza. E porque eu sinto que no fundo de tudo de ruim que existe em mim, há uma bondade pura e inocente. Essa deve ser a mesma maldade que existe em você porque tenho certeza que veio dos seus cinqüenta por cento. Sentir que há algo que nos une é ao mesmo tempo ridículo e esplêndido. Eu não sei quais foram as suas experiências na vida e você não sabe qual foi a primeira palavra que eu falei, mas você sabe da minha existência e eu sinto a sua. Em que você acredita? Qual a sua palavra preferida? Você gosta de música? Qual a expressão que faz seu rosto quando você fica bravo? Você fica bravo com freqüência? Você grita? Você dá bons conselhos? Você mudou? Você ainda fuma maconha? Você prefere praia ou piscina? Quem é você? Eu sei que eu não lhe amo e nem você a mim, mas eu tenho a esperança que ambos possamos nos orgulhar um do outro em breve. Orgulho do futuro, pois do passado só me resta uma vaga lembrança do que você não foi e do que eu nunca deixei a sua ausência ser.

II. Você conquistou o seu lugar em mim. O seu tamanho esconde seu coração mole e a sua força esconde as suas fraquezas. Você se tornou algo pra mim que eu espero que um dia eu saiba lhe dizer o quanto. Você não briga, não grita, não bate e eu tenho vontade de lhe obedecer. Quando você discursa, as palavras não costumam se adaptar a você, elas se confundem e as suas metáforas são péssimas, mas a nossa conversa foi a coisa mais importante que me aconteceu nos últimos tempos – foi a esperança. Você acredita em mim, eu sei e não quero lhe decepcionar. Você é incrível. Você me mima muito e ver a sua bronca disfarçada de conversa séria foi um choque. Ouvir você falando da sua vida, dos seus sonhos não realizados, das suas esperanças e das suas suadas conquistas foi um aperto no meu coração. Eu quero lhe dar essa alegria e todas as outras que eu puder. Eu quero que você possa continuar dizendo sobre mim pros seus parentes com o tom orgulhoso que você sempre usou. Desculpe se eu não pude conter o choro, se eu fraquejo nas minhas decisões e se eu não liguei pra lhe dizer parabéns no último dia dos pais. Pra mim, você é um grande homem. Desculpe-me por nunca ter lhe dito isso.

III. Eu estou feliz de estar de volta, de ter lhe dado a minha confiança outra vez. Eu estou orgulhosa de você, das suas mudanças, das suas escolhas, das suas novas amizades. O tempo que eu passei longe foi o bastante pra você aprender tanto e eu sei que eu perdi essa parte da sua vida, mas eu estou imensamente feliz por ter conseguido encontrar o caminho novamente antes que fosse tarde demais. Obrigada por ter mantido as portas abertas, por ter me aceitado de novo. Obrigada por esconder meus pecados, por rir das minhas merdas e por não ficar brava quando eu durmo muito cedo no meio das nossas conversas de madrugada. Obrigada pelas mensagens cheias de gírias que você me manda e obrigada por me admirar, mesmo sabendo que eu não sou tão perfeita assim quanto os outros acreditam. A sua admiração é de um valor inestimável pra mim, meu bem, porque você sabe a verdade. Eu amo você e eu espero que você entenda que, mesmo longe, eu sempre lhe amei. Passe o tempo que for, quando você precisar, eu estarei aqui sempre - nós somos Soares, somos mulheres e somos (muito) iguais.

IV. Eu não me importo com quantas vezes você repete as histórias. Eu darei risada todas as vezes das mesmas piadas, mesmo que elas não tenham graça desde a primeira. E quando nós segurarmos as mãos pra atravessar a rua, eu não permitirei que você veja que o tempo passou tanto e deixarei você pensar que ainda é você que me conduz, mesmo que hoje seja o contrário. Eu amo você na sua braveza, nas suas graças, nos seus tabus e na sua implicância. Obrigada por ser o alicerce que deixou essa família em pé por tantos anos. Quando você nos deixar, o mundo não será mais o mesmo, mas nós continuaremos caminhando porque você nos traçou esse destino com a sua determinação. Obrigada, mais uma vez, por todos nós, que somos, antes de tudo, fruto do que você sonhou.

V. Eu nem notei e você cresceu. Os pêlos engrossam e as espinhas marcam o mesmo rosto de menino que eu cresci olhando. O brilho nos seus olhos é o de sempre, mas hoje esconde tudo de você que eu não conheço mais. A gente se confessa às vezes, às vezes falando, às vezes não, e é uma confissão complexa, você sabe. Eu não sei me encontrar mais em você com a facilidade de antes. Você era o único homem da minha vida, o mais próximo, o mais (quase) homem. E agora eu me perdi de você um pouco. O que isso significa, eu já não sei explicar. A gente tomava banho junto naquele banheiro e jogava futebol no box com as bolinhas que a gente comprava no Extra, lembra? Era a nossa alegria. Você ficava do meu lado em todas as brigas idiotas e a recíproca era verdadeira. Você ouvia os meus conselhos infantis pras suas brigas infantis, o que até que era apropriado. Hoje, quando eu entro na sala, você tá jogado no sofá, com as olheiras de quem dormiu a tarde toda, você esconde a sua cueca preta de mim. Existe um conteúdo nela, uma vergonha, uma discrição, você esconde a parte nova que cresceu em você e eu finjo não ver, também. Nós seguimos nos garantindo que nada mudou, apesar disso. Os nossos hormônios contradizem a nossa certeza, mas nós os silenciamos, com a mais dura repressão de nossos antigos sentimentos que mantemos intactos. O meu amor por você é o mesmo, menino, mas tente entender um pouco sobre a minha deficiência em amar o homem que você está se tornando – eu não tenho prática alguma no assunto. Talvez, quem sabe, você me ensine. Talvez eu precise de você pra me ensinar isso, sabia?

VI. Eu desejo a sua felicidade. Eu desejo a sua felicidade tanto que chega a ser até um egoísmo, como se a sua felicidade fosse me pertencer, me libertar, me fazer encontrar o caminho. Eu não quero ser a sua felicidade, nem sequer a sua tristeza. Tento me manter numa distância apropriada pra não ser o bastante pra representar nenhuma dessas duas coisas: não posso estar muito perto, tampouco posso estar tão longe. Eu não sou o bastante pra ser tanto pra alguém. Eu estou pedindo ajuda de qualquer lado que me ofereça, eu preciso de ajuda. Não só pra minha vida, mas pra lidar com você. Com a minha vida, por mais que esteja se afundando numa merda sem fim, como você não cansa de me dizer, eu não me preocupo. Eu tou me enterrando nas minhas dúvidas, nos meus sentimentos confusos e, no fundo, no fundo, eu não to nem ai pra isso. Os meus métodos são uma bagunça, mas os meus planos estão se realizando lentamente, e ninguém pode dizer que não está funcionando, no fim. As coisas vão se resolver em breve, eu sei. O que me aflige é que eu não sou crescida o bastante pra tomar conta de você assim, emocionalmente. Eu não sou mulher o bastante pra encarar a realidade. O meu mundo de fantasia caiu e eu estou perdida, mas eu vou me encontrar por aí, pode ter certeza. A vida não é fácil, mas a gente tem que encontrar umas alegrias perdidas em lugares rotineiros. Deixa eu fazer minhas escolhas, deixa... Agora é a parte que você solta da minha mão porque eu preciso voar sozinha. A seu ver, a minha gratidão tem a obrigação de ser uma corrente que me amarra a você. Ela não é. E se fosse, eu não a chamaria de gratidão. Você continua insistindo que ela não existe em mim, mas existe, sim, só que pra mim, ela assume outro formato. Gratidão é inanimado. Gratidão não se expressa em cada conversa banal de nossas vidas. Rotineiramente, não existe o costume de expressar amores imensos. Não existe a hora do abraço e nem a felicidade constante. A gratidão se esconde, talvez, mas ela existe, acredite. Se ela não existisse, eu não estaria aqui, esperando por um final feliz, mesmo sabendo que a história é verídica. Em histórias verídicas não existe o felizes para sempre. Eu ainda quero ir embora, mas eu não vou lhe deixar. Aqui está a minha gratidão. Ela é tímida, pouco explícita, e, talvez, muito pequena para as suas expectativas. Eu lhe devo muito pelo que eu sou, mas eu não tenho a obrigação de ser pelo que eu lhe devo. Não descarregue nas minhas costas o peso de ser o que você não foi. A sua vida não acabou, é só o brilho da sua esperança que está um pouco apagado. Você é muito boa em tudo o que faz. Você sempre se torna boa em qualquer coisa que faça porque o que você gosta mesmo de fazer é de ser boa. Eu sou uma obra sua, mas o seu perfeccionismo não pode se aplicar a mim. Eu gosto de ser humana, de ter defeitos, de fazer merda e de não saber o que fazer, quase sempre. Coloque a mão na massa, dê a cara à tapa – você é boa, você consegue. Recupere a sua esperança. Eu gostaria de poder ir buscar toda a felicidade e esperança que lhe falta pra lhe dar de presente, mas eu não sei como fazer isso e não quero, também. É uma tarefa que tem que ser sua! Desculpe-me pelo que falta em mim e pelo meu excesso de imperfeição. Desculpe-me por preferir artes a matemática e por não seguir a risca o plano que você traçou pra mim. Há agora uma barreira pros sentimentos de mim para você (me desculpe por essa fraqueza, também) e ela se fortaleceu com o tempo que nós não reparamos passando, mas ainda existe o amor, lá no fundo. Como um cenário, que a gente só repara se falta. O nosso amor não é a peça, nem é ator principal, mas sempre está lá. Nós duas sabemos disso. É o amor mais complicado do mundo e o mais simples. Ele sempre existe, não importa. Deixemos as coisas como são, mais cedo ou mais tarde a gente se ajeita. A minha tristeza vai se desvencilhar de você e a sua felicidade, de mim. Seremos completas, então.

VII. Eu tenho me privado de dizer. O combinado é muito claro. Não estou cobrando isso de você, mas de mim. Eu sou assim: eu falo de sentimentos. Eu tento explicar, eu sou explícita, eu não sei esconder, eu escrevo, eu falo e eu não vou me cobrar discrição agora. Eu bem que tentei, mas cansei já. Eu não vou me mudar por ninguém. Por mais amor que haja é sempre preciso lembrar me ver antes. Muito bem. É complicado, mas sigo tentando me permitir. Não é fácil pra ninguém. Eu não sou nem um pouco como nos seus sonhos mais lindos, mas eu tenho a vantagem de ser muito real e de gostar do que você é de verdade. Eu fujo do padrão das suas constantes desilusões em vários sentidos e é, realmente, um bom motivo pra você fugir. O meu maior defeito é gostar de você. Tudo o que é desconhecido causa medo, mas não espere até eu ir embora (de novo) pra sentir falta dele e decidir aceitá-lo.

25 agosto 2009

Maiúsculas Alegorizantes [em demasia]

Não sei escrever tristezas. Alegrias me são explosões, enquanto as tristezas guardo ao fundo da alma, talvez por não querer encontrá-las. Sobra-me uma fresta por onde espio e uma quase curiosidade. Curiosidade de autoconhecimento, de interpretação de uma parte de mim que eu não sei o que é. Eita, adolescência - não sei mais viver devagar, não sei mais esperar, não sei sentar, quieta e constante, pra pensar no futuro. Talvez minha Vanguarda seja mesmo o Futurismo. E olha que é, entre todas, a única que não me agrada. Falta romantismo, falta adjetivação e sobra ação, sobram verbos, faltam significados. Meu modo de ação futurista me mói de ansiedade, me tira a consciência, me deixa sem liberdade. Onde está a liberdade? Onde é que ela se esconde? Onde eu estou? São sentimentos tão clichês, duvidas tão comuns que... Como dizer? Como confessar sentimentos tão primários, tão superficiais? Como dizer que eu sinto tão profundamente algo tão mediano? Sim. Qual é a dúvida, afinal? Existem dúvidas até sobre tê-las. Qual é a base? Em que se apoiar? Em quem? Qual é a dúvida, afinal? Amontoam-se as perguntas e não há o que fazer com elas. Ficam jogadas, suspensas, o ar vai ficando pesado e a respiração cada vez mais lenta. Lenta, sim. Na minha ansiedade por acontecimentos, nada mais flui. O tempo vai parando, os minutos teimam. Cada palavra assume um significado pesado e diferente que não lhe cabe. Tudo o que eu preciso fazer, tudo o que eu preciso ser – me curva as costas. Um peso que eu não sei carregar, uma força que me falta. Também os fatos se amontoam. Eu os quis? Eu os fiz? Eu os causei? A minha justiça está farta, e de farta tornou-se falha – já não sei discernir. Quanto é amor e quanto é hipérbole? Quanto é justo? Quanto mostrar e quanto esconder? Esconder de quem? Mostrar pra quem? Quanto é beleza e quanto é alegria? É que o mundo era sempre tão lindo aos meus olhos, agora parece que sempre há algo que lhe arranca as cores, que me dá ânsia. Eu não me encontro mais na Arte. Arte, pra mim, sempre teve um quê de felicidade, mas já não o encontro. Por vezes, minha antiga felicidade me envolve, tão quente, tão esperta, tão minha, mas nem mais ela pode ser estável. Não é por isso que eu mudei? Eu costumava ser ininterruptamente feliz, eu costumava viver de forma desnecessariamente feliz. Agora, a felicidade me atinge em alguns momentos e, em outros, eu a deixo escapar entre os meus dedos. Há uma inconformidade que vem de dentro, uma ansiedade burra que me causa dores de cabeça. Eu preciso andar. Sair andando, sair daqui, sair de todos os lugares porque estar me dá náuseas. A sensação de ver o tempo passar é uma névoa aos olhos, me falta a concentração, me falta a vista (e os meus óculos, onde estão em horas como esta?), me dói a cabeça, como sempre.

Ah, inefável Desejo! Sai de mim, que não lhe quero ter. Você me consome e me acalanta, bate e assopra e eu não me desvencilho de suas mazelas. Mas não... Ai, fica... Fica sim, que lhe preciso. Porque é em quem me apóio antes de dormir quando me perco tanto desse jeito. Mas o que é você, meu mal? É a causa de meu sofrimento? O torpor de minha antiga alegria? Ou é minha Arte? Meu bem? Meu sorriso? Pra que lhe mantenho por perto? Pra que não lhe aproximo nem lhe afasto? A distância vital que mantemos, já não sei se é de bom grado que permaneça. E se eu lhe aceitar de volta, completamente? Quais decepções me esperarão pelo caminho? E se eu cuspir na sua cara, Desejo? E se eu lhe reprimir, lhe repudiar, se eu lhe negar três vezes? Depois passarei a vida jurando pulinhos a São Longuinho para lhe encontrar ou agradecerei à minha coragem de ter lhe mostrado a saída eternamente? Ah, meus sentimentos, bem eu sei de suas purezas. Não esperem tanto de mim, por favor. Tenho-lhes um afeto profundo, acreditem, mas não tenho conseguido senti-los todos. Não tenho conseguido, me perdoem. Não vão embora, por favor. Acreditem em minha força só mais um pouco. Eu vou erguer a cabeça e vou enfrentá-los. Um dia, queridos, vocês serão todos tão intensos novamente. Prometo que tentarei não demorar. Eita, vida – que cenas ainda guarda pra minha peça? Que personagens serão os principais?

Vem cá, Amor, você precisa de um abraço: eu sei que não estou lhe tratando muito bem; ando lhe dando umas broncas, ando lhe censurando, ando lhe dando muita corda, pouco significado. Fica, Amor, fica que a Fé lhe ajuda. Pode ficar também, Dúvida – eu reconheço tudo o que você faz por mim, mas sabe? A Tristeza não é uma boa influência pra você, deixa ela pra lá. Volta a ser BFF do Desejo. Ele é meio estranho mesmo, eu admito, mas você gostava dele tanto... Eu também não tenho certeza se o quero, sabe? Mas não quero que ele deixe de andar com a gente, mano. Vamos dar outra chance pra ele, quem sabe dessa vez ele não traz a Alegria de volta de vez? Ouvi dizer que os dois são super amigos.

16 agosto 2009

Don't you think?

Well life has a funny way of sneaking up on you
And life has a funny, funny way of helping you out
Helping you out

(Alanis)

18 julho 2009

Passa devagar pr'eu te olhar

Não sei se foi o seu nome, se foi a cor do seu cabelo ou o fato de eu não poder ver suas fotos: sempre houve um pensamento em mim que fosse todo seu. Antes, ele era fraco, simples, comum, uma curiosidade, um interesse, eu queria saber quem é você. Eu queria descobrir do que foi que lhe fizeram. De que matéria? De quê? De queijo?

Cultivei meu pensamento, mas ele não deu frutos. Desisti dele, deixei guardado em algum lugar escondido em mim, mas você não apareceu. Por muito tempo, não houveram notícias suas e eu esqueci de me lembrar do meu pensamento. Mas ele permaneceu, imóvel, intacto.

Daí você apareceu. Assim mesmo, do nada, num momento em que eu não estava esperando, você apareceu. Um coincidência catastrófica - em outros tempos eu estaria esperando que você aparecesse, mas não neste momento. Estava completamente desprevinida e uma felicidade espontânea e imensa me atingiu em cheio - era o meu pensamento, voltando com toda a força. Ver você foi o auge do meu platonismo - em cada detalhe seu, eu vi um pedaço de desejo. Em cada palavra sua eu silabicamente me encantava e tentava desesperadamente disfarçar a minha cara de besta, enquanto você mexia ininterruptamente na boca e eu secretamente desejava que em vez de você fosse eu mexendo nela.

É uma afronta ao meu imenso platonismo você gostar de mim também. Você tem alimentado o meu pensamento e ele cresce em escalas exponenciais, mais do que nunca. Eu tenho medo, medo de tudo, medo desse tudo não dar em nada - e esse medo louco talvez seja a melhor parte. Sagitarianos gostam dessas aventuras, não é mesmo?

Tudo o que eu sei sobre você só me faz pensar no quanto eu não sei quase nada ainda e no quanto eu quero conhecer todas as partes que existem em você e todas as histórias malucas que você tem pra contar. O meu pensamento já tomou conta de mim - eu só penso em você. E em todas as possibilidades remotas dessa história que tem um milhão de chances de ser incrível. O não saber me deixa muito ansiosa, e repleta de uma felicidade imeeeensa que me faz olhar aquela minha foto preferida o tempo todo.

Eu sei que você pertence ao mundo, mas eu tenho apenas a pretenção de pertencer a você.

Ai, volta logo?

12 julho 2009

Sobre morder a mão

Morder a mão é um gesto que compreende algo um pouco além do simples ato de colocar a a mão na boca e apertar os dentes contra ela. No momento exato de morder a mão, as atividades metabólicas do corpo se confundem, é alguma coisa na barriga, que mixa diversos sentimentos e gera uma inexplicável sensação que às vezes parece fria, às vezes quente. E há uma certa dormência nas pernas e nos braços, uma coisa estranha na garganta e um formigamento no maxilar.

É um quadro clínico complicado, não existe profilaxia certa e a única forma de tratamento é fincar os dentes fortemente na mão fechada, até deixar marcas.

08 julho 2009

Inexpressão de inexistência

Eu não sei ser. Fazer é fácil, eu faço, falo, ajo; mas o que eu diria sobre mim? Supostamente, dizer é fácil, mas eu me perco nas entrelinhas do fazer fazer fazer e acabo não guardando pra mim mesma muitas palavras. E olha que eu sou uma grande fã das palavras - eu as cultivo, as cultuo; mas as disperdiço. Eu me entrego, eu não nego, eu vou de corpo inteiro, compartilho minha alma toda, o coração na boca, na mão. Quais palavras restaram pra mim?

Dissertar ou narrar sentimentos não os enfraquece. Eu acreditava que poderia liberá-los de mim dizendo sobre eles tudo o que fosse possível, mas me enganei - quanto mais palavras eles possuem, mais veracidade, mais força, mais garra. E quanto a mim? Eu, que não possuo palavras? Em volta dos meus verbos não se organizam frases. Nos dias de hoje, o que não é documentado simplesmente não existe. Eu posso existir? Sem palavras, sem frases, sem nada? Serei uma gravura, uma cor? O verbo ser me cabe? Dêem-me esta palavra, só esta, ao menos.

Os sentimentos consomem minhas palavras como um imenso buraco negro: quanto mais palavras eu conheça, mais ele as quer. Eu as entrego, com o coração aberto, sem duvidar de suas cruéis intenções destrutivas, mas quando me faltam as palavras, o frio da inexistência me toca a pele, sensibilizando nervos do meu corpo que eu nem desconfiava que existissem. E existem? Ou não?

Não ser escrita é uma sensação literária de uma tendência ultra romântica de morrer de amor. Na realidade, não é morte, o infeliz há de se contentar em continuar vivo - sobrevivendo como um ser inanimado, sem palavras, sem verbos, sem adjetivos e sem onomatopéias. Inexpressivo.

Como me deixei levar?
J
usto eu, que sempre preferi os naturalistas...

28 junho 2009

Lá do interior

Ela veio do meio do Estado, de seu cerne, centro, meio. Fala com o r puxado, às vezes ela deixa ele de lado. Pra que r, fraga?

Mas o que me encanta nesse pedaço de meio do mundo é o poder de ser tantas coisas. De primeira, foi, também, o que me afastou dela. Eu não conseguia acreditar que tentar ser tantas coisas poderia ser bom, mas eu estava completamente enganada. Ela é todas essas coisas e consegue conciliar todas, sem problemas. Ela não tem medo de ser o que é, ela se mostra ao mundo com a cabeça erguida e dá a cara à tapa. Talvez por isso seja complicado gostar dela no começo. Mas conforme o tempo passa, ela vai mostrando o quanto ela pode ser perfeita para ocasiões tão diversas: uma amiga para todas as horas. Ela estará lá pra você falar bobagens e também estará quando você precisar falar de coisas sérias. Ela estará ao seu lado quando você ganhar em primeiro lugar e também estará quando você fizer a pior cagada da sua vida. Ela vai lhe encontrar no msn e dizer Oii, amiga! e você vai se sentir à vontade pra contar qualquer coisa pra ela.

Ela não segue um estilo, não por não gostar de nenhum, mas por gostar de todos. E eu nunca achei ecleticidade bonita, exceto nela, porque combina. O gosto eclético, os sentimentos ecléticos, toda a maneira única dela de gostar tanto de tantas coisas.

Ela é um poço de infindáveis histórias pra contar, ela é um achado, que veio do meio do mundo pra se encontrar em lugares diversos. Ela acredita em tudo o que é verdadeiro, em tudo o que é de coração. Ela segue e defende o que acredita. E eu, que sou apenas algumas coisas, a amo. Até tentei fugir, mas no fim, simplesmente não encontrei nenhum jeito de não fazê-lo.

23 junho 2009

Desconfortável

A dúvida é a minha melhor amiga.
Nós damos as mãos e nos damos muy bien.

19 junho 2009

Abaixo da Epiderme

Existe um amor. Não sei onde ele se esconde, mas sei que está dentro de mim. Por vezes, posso senti-lo na pele, transbordando. Outras, ele afunda em minhas entranhas, se acomoda no cerne do meu corpo e lá se deita, incômodo corpo estranho. E eu nada mais posso fazer que senti-lo. Sentir por completo, alimentar e tratar como hóspede o hospedeiro, um parasita.

Mas ele é tão imenso... imensurável que não posso reunir forças para tirá-lo de mim. O que eu seria sem ele? Difícil pensar em tais associações. Ele me sorri por dentro quando o seu riso me encanta e ele me chora quando você não está por perto. Sem ele, quando você chegasse eu não sentiria nada. Eu ficaria segurando o ar, esperando a dor e a emoção da sua chegada, mas nada viria. E então eu não saberia o que fazer.

Arranca ele de mim e terá sua confusão resolvida em um segundo. Existe a osmose para isso, os meios se tornarão isotônicos. Aproveita do meu amor que ele é seu. Sente esse amor nos meus olhos, na minha boca, exalando dos meus poros. Sente um pouco dele e você saberá num instante. Pega ele pra você, leva embora, ele me faz fraca, inconstante, inconsciente de meus atos, de minhas palavras.

Vou colecionando os seus detalhes e os seus defeitos para alimentar o amor que tenho. De vez em quando, eu não sei desistir. Ele não desiste nunca.

13 junho 2009

O frio é a falta de calor

Já não sei mais se é ansiedade ou frio. Há uma certa ânsia, sim, uma certa falta de concentração que me deixa pensando apenas em fatos isolados. Quantas maneiras diferentes eu já imaginei esta mesma cena? Já perdi a conta. O meu coração está um pouco acelerado e meus pés estão muito frios. Eu não consegui fazer as notas muito bem no violão hoje e a minha voz sai um pouco tremida demais. Seria isto tudo algo que um banho quente vai resolver? Meus dedos estão gelados e eu erro tudo o que digito. Será que estou tremendo por causa do frio também? Há um gelo que passa pelo corpo de vez em quando. O tempo está frio mesmo ou será o frio da minha barriga se alastrando pelo corpo todo?

09 junho 2009

And I want nothing that you're not

Gostaria de poder dizer de uma forma que você pudesse encontrar, se procurasse, mas que se apenas lesse por cima, não entendesse meu real proprósito. Gostaria de escrever sobre você e não contar ao mundo todo o seu nome. Mas todas as palavras que eu uso pra dizer de você são suas, qualquer detalhe que eu possa dar, me delata. Não há maneiras de dizer com palavras gerais; não há, em você, o comum. Independente do que eu disesse, todos saberiam. Você saberia! Encontraria a si no vão das palavras e entenderia num instante. E qual reação teria então? O que faria? Quando soubesse o que há em mim, se afastaria de súbito ou se entregaria? O medo da resposta me impede de pronunciar a pergunta. E de publicar os imensos textos que insisto em escrever sobre você.

23 maio 2009

Tudo isso é paz, tudo isso traz...

Em momentos assim, as palavras não saem tão facilmente. Tem um nó na garganta que aprisiona uma felicidade pura, concentrada. A voz sai desafinada e as palavras, simplesmente se escondem em lugares que eu não vou encontrar enquando estiver procurando por elas.

É que palavras são como peixes. Pra gritar, no meio do alvoroço, elas fogem, nadam, lisas, escorregam por entre os dedos, língua, dentes. Elas mordem a isca em momentos calmos, com leveza, elas, enfim, mordem a isca. Com paciência e concentração, podem ser saboreadas cuidadosamente, como peixes.

Mas momentos como este não são de palavras, nem de peixes. São momentos-aves, instantes alados. Contenha-se, menina. Rasga o céu em dois a alma, dividindo tudo o que é materia do que é sentir, filtrando, decantando, cantando alto. Palavras ecoam sem sentido e os significados parecem hiperbólicos, exponenciais.

Em momentos como este, só há felicidade, sorrisos largos e frios na barriga. E tudo o que é além não tem serventia. Tudo o que é além vem à tona pra separar esta mistura. Tudo o que é além é aquém. E a quem? Não a mim, porque a mim - isto basta.

02 maio 2009

Fuck prop 8

Eu não consigo capturar as palavras pra dizer exatamente o que é porque quando eu estou com você, começo a falar rápido, e, antes que eu entenda, elas já estão todas lá. Confusas, estranhas, MEU DEUS! E é tudo tão simples quanto dizer tudo o que vem a cabeça, e tão complicado quanto falar as palavras na velocidade da luz. E é exatamente assim que eu me sinto ao tentar expor pra você o que eu estou sentindo agora - é simples e complicado, ao mesmo tempo.

Sabe? Eu tenho vários traumas. Porque eu não quis que as pessoas achassem que eu era o que eu não era. Fico sempre pensando: Eu já sou estranha o suficiente sem isso. Mas quando você chegou me dizendo nós não ligamos pro qu'eles dizem foi tão... profundo. Você me fez acreditar nisso e deixar de lado alguns dos meus medos. Porque, realmente, não importa. Você resgatou os meus ideais que eu estava abandonando. Nós sentamos no chão mesmo, e preferimos! E se eu quiser te abraçar no meio da rua, cantar Maria Rita, deitar na calçada de tanto rir, não importa. Porque é isso o que nós acreditamos. Tudo com um tom teatral, um pouco de arte. Nós acreditamos na intensidade, na vontade, acima de tudo. Nós acreditamos que podemos nos amar, com toda a intensidade possível e não nos importarmos com o que pareça. Acreditamos que podemos não ligar pra todo mundo, pro que eles acham. Porque nós sabermos é o bastante pra nós. Que se foda a mídia, o sistema, os preconceitos, as falsidades. Que se fodam, de verdade. Porque você está por aqui, e está sempre tudo bem, mesmo às quartas-feiras.

Espero que você saiba o quanto têm se tornado mais importante a cada dia, a cada feriado, a cada aula.
Amo você loucamente, baby ♥

22 abril 2009

Não Maria, mas Rita

Tenho uma necessidade por pessoas. Às vezes tento escrever histórias, inventar personagens. Mas não passam as pessoas. Elas estão e permanecem todas à minha volta, esperando para serem amadas, para serem odiadas, pra eu não gostar delas ou gostar delas muito. Elas estão lá pro mundo, dando sua cara à tapa, como eu, como todos nós, simplesmente levando a vida, de jeitos diferentes, com todas as variáveis e incógnitas possíveis.

O fato é que o comando me atormenta. Os meus personagens são muito entregues à minha vã vontade momentânea. Eu gosto das coisas que não posso controlar. E lá estava ela, à primeira vista tão comum, naquele palco, reclamando, coçando a cara com o microfone, com o cabelo um pouco despenteado. Tão cheia de peripécias pra contar, de infância, de histórias. Não segue o meu esteriótipo de amizades platônicas, mas ela é incontrolável. Ela é tão assim, sabe-se lá por quanto tempo, sempre foi, tão ela, que chega a ser um pouco deslocado, antiquado e imprevisível. Imprevisível por se encaixar tão perfeitamente entre diversos fatores improváveis. Imprevisível por se fazer importante, de um jeito tão ímpar. Sem saber, sem precisar ser nada além do que lhe cabe.

São 150 alunos, mas ela está lá, todas as segundas e quintas. Eu me enfeitarei com um sorriso bobo todas as segundas e quintas pra dar risada das espantadas de sono dela. As pessoas são tão únicas que eu não posso evitar. Elas estão lá, sempre. E o meu platonismo nunca falha.

05 março 2009

Seu samba vai tocar no infinito

Shows são uma ilusão. Nós vamos alegremente até o local, pegamos fila, pagamos caríssimo no ingresso, brigamos com pessoas chatas, pisoteamos os pés dos outros, perdemos o celular, somos roubados, mas no final nada disso importa, nós estamos lá, cara a cara com a pessoa que admiramos, compartilhando olhares, acreditando na imensa e idiota ilusão de que estamos, realmente, compartilhando olhares.

Mas então ela veio. Ela apareceu naquele palco pra quebrar todas as certezas que eu tive. Foram duas vezes, esperanças duplamente reforçadas e SIM, eu realmente acredito que ela se lembrou de nós. Porque, oras, existem mil fãs da Maria Rita. Existem mil fãs de samba, existem mil fãs de todas as coisas. Mas eu sei que, naquele dia, nós nos destacamos. Pra ela, inclusive. Nós éramos a nova idade, reunida com toda a mais pura unidade, bem ali, na frente dela e gritando. E chorando. E dizendo com os olhos: nós gostaríamos de ter um símbolo pra fazer com as mãos e dizer o seu samba, mas estamos aqui, com a maior adolescência possível dizendo com as mãos erguidas no ar: Yeah, girl, you ROCK. You rock com o seu samba de bossa e não de grito, you rock com as suas dancinhas, com as suas gracinhas e com as suas pernas torneadas e roupas de lantejoula. E, sim, eu realmente acredito que ela pegou essa mensagem no ar, dentro da magia que se forma naquele pequeno universo que celebra tudo o que é bonito que é o show da Maria Rita.

Quão ridículo é dar corda a essas esperanças? Quão tosco e sem noção é isso? Quanta vontade seria necessária pra fazer com que quatro pessoas vissem e acreditassem nessa mesma coisa? Não é muito possível que tenhamos imaginado. Não consigo acreditar nessa possibilidade. Ela olhou pra nós, ela apontou pra nós, ela imitou o nosso gesto idiota, ela riu quando nos viu e ela disse: Pra você também. Ela disse pra nós, eu tenho a mais absoluta certeza disso. E que me rotulem de louca, se quiserem, que ninguém acredite em nós, que me olhem com cara de desprezo enquanto eu conto, eu não vou me importar. Porque essa semente de esperança é minha e eu sinto como se eu pudesse mudar o mundo. Uma semente dividida em cinco. Que me faz ter forças pra seguir essa trajetória e acreditar nos meus sonhos mais incríveis.

Desde ontem, nasceu em mim uma expectativa de um futuro melhor, uma vontade, uma verdade, um desejo de ser algo notável, nasceu em mim algo bom e novo e tudo isso tem o seu nome assinado em baixo, Maria Rita. Os seus nós da garganta, os seus choros, eu acredito na verdade de cada uma das coisas que você faz, com o seu coração enorme. Eu sinto na sua voz, o quanto tudo é verdadeiro. Eu acredito na sua força e NINGUÉM poderia ter representado melhor a comemoração do dia da mulher do que você.

É, Maria Rita, a novidade que anda por aqui é toda sua ♡

03 março 2009

The end has no end

Na vida real, as histórias nunca terminam. Não existem fins, tampouco pontos finais. Nós simplesmente seguimos em frente, depositando todas as nossas raras esperanças em um santo que até mesmo os ateus são obrigados a acreditar - o tempo. E, com mais facilidade do que nós, o tempo segue, mando, frio, lento. Mas, no fundo, o tempo é como aquelas borrachas milagrosas vermelhinhas que apagam caneta - realmente acreditamos que pode funcionar e a nossa profunda fé faz com que a usemos até arrancar do papel as fibras coradas de tinta de caneta e todas as outras em volta, junto. Não é realmente como apagar, o papel está, então, incuravelmente ferido. Ao longo da vida, podemos tentar arrancar à força as memórias, podemos tentar nos dilacerar para remover o que está errado dentro de nós, mas existem marcas que não podem ser apagadas. Mesmo que tenhamos a grande sorte de esquecer os motivos e deixar de lado os sofrimentos, as marcas, elas ainda estarão lá.

01 março 2009

Desatando nós da garganta

Como para ajustar certas expectativas, eu resolvo mudar de opinião sempre. Mas nunca encontro o ponto certo, a sintonia, não consigo equalizar a rádio tocará as músicas que eu pretendo ouvir. Meus valores estão todos distorcidos, e para não precisar explicar o que sinto, mais por não saber, simplesmente não toco no assunto. Ele fica lá - parado, intacto, intocável. Dessa forma, encerra-se tudo por debaixo da minha pele, onde eu guardo pra mim o que ninguém pode encontrar.

18 fevereiro 2009

O outro lado

No meio de sua caminhada, Natália parou os dois pés paralelamente ao meio fio para observar calmamente o trânsito com o objetivo de atravessar a rua, sem ser atropelada. Mas, por algum motivo desconhecido, em um instante todos os objetivos fugiram de sua mente. Ela olhou ao redor, procurando-os, mas se perderam muito rapidamente por entre os automóveis, por debaixo dos pés dos pedestres apressados, por entre os corpos apertados do transporte público do meio dia. Sem reação, encarou a rua com coragem. Observou atentamente detalhes que a pressa nunca a deixava ver. As moedas pesaram no bolso, um peso incômodo e repentino, como se tivessem acabado de ser colocadas ali. Os ombros pesaram a postura incorreta que ela insistia em ter, então ela se alinhou e segurou o fichário com mais firmeza. Observou os carros e pensou em quanto eles nada significavam pra ela, e sentiu um carinho maior pelo seu par de tênis velho a partir daquele instante. Pequenos detalhes de uma rotina que não poderia ter nenhum outro adjetivo além de rotineira mudaram, naquele mísero instante. Ela sentiu melhor os pés e atravessou a rua, sem olhar pra trás.

13 fevereiro 2009

O que é que a baiana tem?

Eu certamente escreveria uma poesia se fosse do meu feitio. Afinal, tais fatos mereciam ser narrados em sílabas fonéticas perfeitas, em palavras contadas, em frases pensadas. Mas, sendo eu, a representante mais árdua da hipérbole, não poderia conter os advérbios de intensidade que eu insisto em espalhar exageradamente ao longo dos períodos, só pra deixá-los mais longos e com pose de intelectuais.

Como uma belíssima contradição às minhas experiências e, ao mesmo tempo, como uma resposta tão condizente às minhas expectativas que eu nem chegava a esperar tanto, como uma resposta a tudo isso, você me trouxe as cores. Justo pra mim, que sou tão intensamente apaixonada por cores. É que cores pode ter um sentido muito amplo, mas no seu caso, foram cores mesmo. Cores que estavam tristes, aprisionadas dentro de uma caixa de lápis de cor e você as fez voar em espaçonaves e as concentrou, em imensas doses de alegria pura, bruta, completa.



Apesar de eu prestar atenção em cada detalhe do que você me diz e já saber diversas coisas sobre você, parece que ainda vai levar um tempo pra eu saber do que é que se faz essa sua alegria, do que é que você é feita, de onde é que surgem os seus jardins de pirulito. E, talvez, eu realmente nunca saiba. Mas é que tudo o que você é são tantas coisas que me parece grande demais pra ser compreendido, e talvez seja bom assim, sem saber.

Ter você no meu MSN significou novos motivos pra dar risada, mas ter você na minha vida significou ter um motivo de verdade pra sorrir diariamente. E, aconteça o que acontecer daqui pra frente, nenhum outro começo poderia ter sido melhor do que este.

E o que mais me impressiona é que pode parecer tão pouco para o mundo, mas pode parecer incrivelmente enorme pra mim. Incrivelmente enorme...

E mais uma vez o assunto de hoje: Ai, como a Fer é foda ♥

06 fevereiro 2009

A verdade sobre a magia [parte 10]

Quando Liz chegou em casa, naquele dia, desabou no sofá bege da sala de tevê. Tinha o olhar fixo, perdido e distante. Não ouviu música, não ligou o computador, não assistiu seu programa favorito. Entre os dedos, amassado, um pouco apagado e molhado com o suor da mão que o segurara com tanto ardor o dia todo, estava o melhor guardanapo de papel que ela recebera na vida. Ela o abriu e o alisou em cima da mesinha de centro. Assim o deixou, ali. Afundou as costas no encosto do sofá e o observou atentamente. Pensou em quantos guardanapos exatamente como aquele ela havia usado na cafeteria durante a vida toda e jogado todos fora depois, sem qualquer ressentimento. Eram, afinal, apenas guardanapos. Mas ela olhava pra aquele, em especial, como se fosse um diamante recém lapidado. Era a coisa mais importante que havia naquela sala, naquele momento.

O que ela sentia era um sentimento descompassado e praticamente incompreensível, que de tão insano, parecia perfeito. E, naquele momento, ela descobriu. Olhando para aquelas fibras toscas e rabiscadas de azul, ela soube: A magia e o ser humano são duas coisas que estão intimamente ligadas. Com um toque, um olhar, um gesto, o homem pode transformar completamente as coisas. Aquilo era um guardanapo, sim, mas a caneta azul de Jonas o transformou numa coisa maravilhosa, que de tão boa, ela nem podia descrever.

Ela riu de leve, colocou o papel no fundo do guarda-roupas, deitou-se e não pensou em nenhuma outra coisa até adormecer.

Sinalizar o estar de cada coisa [parte 9]

- De onde foi que você copiou isso?

Encarou-a. Engasgou com a própria saliva, mas não tossiu. Tapou a respiração - não sabia, não sabia. Estava nervoso, abriu a boca para ver se vinha algo à cabeça para falar, mas no exato momento em que o cérebro enviou uma mensagem para as cordas vocais tentarem vibrar, ela desabou na cadeira à frente dele, dizendo:

- Tá, você ganhou, é lindo.

Ficou confuso. Ainda mais do que já estava. Abriu a boca de novo, mas não pensou em nada pra dizer. Então resolveu improvisar. Tamanho desastre, pois ele mal sabia fazer as coisas sem improviso.

- Eu gosto do jeito que você prende o seu cabelo, porque ele não parece muito arrumado, mas ao mesmo tempo, se você quisesse que ele ficasse exatamente assim, levaria horas. Ele nunca é igual, não é?

Ela olhou nos olhos dele com uma expressão que não poderia significar nada além de dúvida. Observou o homem que não passava de um pequeno e inocente menino mordendo os lábios, desviando o olhar, disfarçando (coisa que, diga-se de passagem, ele não sabia fazer nada bem). Então, ela desprendeu a atenção daqueles pequenos movimentos estranhos e quase nem se lembrava mais da pergunta que ele tinha feito há um segundo. Respondeu, meio sem certeza:

- Não sei.

Seguiu-se um silêncio constrangedor, como sempre é quando as pessoas não se conhecem e não têm o que dizer uma diante da outra. Ela sentiu as faces arderem, estava tão vermelha que combinava com o tom de seus cabelos. Ela era especialista em combinar as coisas sem intenção. Ele estava em choque ainda. Não só com a forma incoerente que o enredo se desenrolava sem que ele pudesse prever, mas também com a estranheza das cores que compunham aquela cena, e, ainda por cima, combinavam. Combinavam. E não havia nada que ele pudesse fazer pra mudar isso. As cores combinavam simplesmente pelo fato de que estavam lá dispostas num momento perfeito. Descritas com sua intensidade peculiar, sem querer ser mais ou menos do que lhes cabia. Eram apenas cores, e, ainda assim, eram cores perfeitas. Traziam em seus tons quase secretos todo o calor que aquele dia proporcionava. E, se algum dia, tornasse a vê-las dispostas assim, chamaria de deja-vu e seria um dos bons, daqueles que fazem aparecer um sorriso, em que já não se lembra o porquê de sorrir, mas se desconhece qualquer motivo pra não fazê-lo.

Jonas concluiu que haveriam passado horas, dias, anos ou milênios depois de todos aqueles pensamentos que estavam passando pela cabeça, mas antes que pudesse tomar uma providência, ouviu o ruído do silêncio espatifando-se com a pergunta:

- Foi você mesmo quem escreveu? Mesmo?

Demorou a assimilar a frase, seus ouvidos não eram muito acostumados com vozes femininas.

- Sim, fui eu... Mas... eu não sei. Você me faz sentir como se eu não soubesse de nada mais. Eu não consigo explicar... Eu só preciso... Saber. Saber o que é isso. Saber quem é você... De onde você veio... E qual é a sua cor preferida... Eu preciso... Saber. Só... Pra eu me encontrar de novo.

Ela riu. Aquele sorriso largo e difícil de superar que apertava o coração do pequeno grande Jonas. Apesar disso, sentiu-se livre - se ela sorriu, era um sinal de que não era de todo mal. Estranhou as novas sensações que sentia, mas as aceitou de peito aberto, pronto a receber toda a sorte de informações que lhe fossem cedidas. Estava pronto agora, havia crescido tanto...

- Verde.


A confusão na cabeça dele se esvaiu em um segundo. Surgiu uma linha tênue entre a total clareza e o desespero. Era uma linha verde. Pensou em milhões de coisas verdes. E talvez tudo o que ele pensou transpareceu um pouco através de sua expressão esperançosa e incomum porque ela, agora, o observava com outro olhar, com outra intensidade, com outro sorriso. Com um sorriso, pelo menos.

- Enfim, comecemos pelo começo, agora que já estamos quase no meio - ela riu, já ele, demorou ainda uns três dias pra entender o que ela quis dizer com esta frase, mas depois sozinho em casa, ele riu também - Qual é o seu nome, Senhor J?

02 fevereiro 2009

Every possible mistake

I maybe wrong, I don't know why.
I maybe wrong, but I try.

I did feel like coming but I also felt like crying
And it doesn't seem so worth it right now.
And don't get me wrong, dear, in general I'm doing quite fine.

Respectivamente,
Yael Naim - New Soul (título)
Nellie McKay - Identity Theft
Regina Spektor - Summer in the city

27 janeiro 2009

Ela gosta dos títulos

Eu tenho uma queda por pessoas. Pessoas diferentes, que vêm com um pacote próprio de problemas, dúvidas, piadas e milhões de experiências diversas para compartilhar. Que sejam humanas o bastante pra terem muitos defeitos, muitas qualidades, muitos conselhos e muito papo pra jogar fora.

Hoje, eu poderia comentar sobre os problemas do mundo, criticar a corrupção ou a reeleição do Lula. Eu poderia defender a língua portuguesa tradicional ou as provas dissertativas da Unicamp. Eu poderia falar sobre coisas que me aconteceram ou inventar detalhes pra uma narração qualquer. Eu poderia até mesmo postar o fim de uma narração que eu passei dias fazendo. Mas não, eu não tenho vontade alguma de escrever sobre nenhuma dessas coisas. Talvez eu não seja um pessoa séria o bastante para dissertar. Sobre o resto, não sei dizer.

Na verdade, há dois dias eu clico em Nova Postagem, escrevo algumas palavras, depois as apago e saio, sem nem mesmo deixá-las no rascunho. É que o assunto sobre o qual eu quero falar, nem sequer chega a ser um assunto quase, de tão pouco. Em fatos, não é praticamente nada. Mas eu não me importo com fatos. É tudo culpa do meu signo. Durante essas férias entediantes o que me encanta, pra variar, é o incerto, uma dúvida engraçada, um futuro próximo cheio de interrogações e o que sei delas é que elas são lindas e roxas.


Era uma menina comum, e ela estava por aí até um tanto por acaso, os nossos amigos em comum poderiam ter deixado isso de lado, afinal, nós poderíamos simplesmente dizer oi quando fosse preciso e seria o bastante. Mas não sei de onde surgiram os assuntos, de onde surgiu a vontade, de onde surgiu a confiança. Quando eu vi, simplesmente estavam todos ali, dispostos na minha frente. Naquela tela com uma foto quadrada de uma menina com uma panela na cabeça, eu digitando pra ela sobre os meus problemas mais secretos e conversando abertamente sobre as verdades mais engraçadas que pudemos nos lembrar. Falando assim, nem me parece sensato. A gente não deve confiar logo em pessoas com panelas na cabeça.

O mais estranho de tudo é que quando eu peguei um lápis e um papel, eu nem lembro quanto tempo fazia que eu não sentia vontaaaaade de desenhar, e a primeira coisa que eu pensei foi: A Fer quer uma fada. Ela nem tinha pedido pra mim direito, só tinha comentado que pedia pra todos que desenhavam. Mas eu interpretei aquilo como um futuro pedido e não sei, eu quis desenhá-la.

No dia seguinte, olhei pr'aquela fadinha bonitinha no papel de caderno, desenhada de lápis e caneta preta e pensei que teria que ser um pouco mais do que aquilo. Então eu a desenhei de novo, numa folha bonita, com as minhas canetinhas e lápis de cor, recortei a folha, fiz uma estrelinha roxa. Pintei de roxo, o máximo que eu pude. Separei todos os tons de roxo que eu achei no estojo.

E eu não a conheço. Eu pensava em quê ao desenhar se eu não a conheço? Eu não tinha certeza se o que eu conhecia era o bastante pra que eu fizesse com que aquele desenho fosse dela. Que fosse dela e que fosse pra ela. E, para minha maior surpresa, quando ela o viu, o que ela me disse, sem ter conhecimento algum das minhas dúvidas e preocupações, foi que aquele desenho se parecia com ela. E nenhuma outra resposta que ela desse poderia ter me agradado mais.

O que isso significa, eu não tenho intenção alguma de prever.
Não sou boa em fatos, me componho dessas pequenas esperanças.

17 janeiro 2009

Incompleto e cheio de graça

Eu não consegui escrever nada pra você.

É como se tudo o que eu precisasse dizer pra você eu já tivesse dito. Vão fazer quatro anos de muitas cartas, conversas intermináveis, depoimentos, textos, bilhetes, confissões, tudo. Tudo. Tudo o que você precisa de uma amiga na sua vida. Diversas vezes eu já te comparei com o mar, já te agradeci por você ter mudado a minha vida completamente, já escrevi coisas engraçadas... E hoje, parece que tudo o que eu penso de você, você sabe. E eu me pego pensando: o que eu escreveria pra ela pra ser uma novidade? O que, por Deus, eu escreveria, que a faria se emocionar de novo? De todas as menores e maiores coisas, de todos os meus segredos e de todas as minhas verdades absolutas? Quais os detalhes que eu deveria te contar? Quais os detalhes sobre você mesma que eu deveria listar? Quais os detalhes sobre a nossa história? E confesso que realmente não sei.

Marina, e se a minha carta não for boa o bastante? E se eu não souber escrever coisas boas o bastante pra você? Você vai me perdoar se, agora que eu conheço você, eu não souber disfarçar tão bem mais com palavras o que eu tenho que dizer?

Você é a pessoa mais completa que eu conheço. Você é linda, você é engraçada, você é séria, você é esperta, você é inteligente e sempre, não importa o momento pelo qual eu esteja passando, você sempre entende. Você pode me confortar com uma piada, com uma crítica bem colocada, com uma discussão de horas sobre alguma coisa em que a gente se aprofunde muuuuito ou com um abraço. Não existe definição melhor pra você que completa. Não que essa palavra explique o quanto existe em você, não que essa palavra demonstre o que você passa quando você está, eu realmente não espero que esta seja a definição mais detalhada, mas pra mim, hoje, não dá pra detalhar você, você é como a palavra tudo, você diz uma palavra e cada um entende o que quiser. Você é tanta coisa que eu nem me atrevo a dizer. Pra mim, Má... Você é tudo.

Eu te amo, grande, especial, completamente - amiga.