18 fevereiro 2009

O outro lado

No meio de sua caminhada, Natália parou os dois pés paralelamente ao meio fio para observar calmamente o trânsito com o objetivo de atravessar a rua, sem ser atropelada. Mas, por algum motivo desconhecido, em um instante todos os objetivos fugiram de sua mente. Ela olhou ao redor, procurando-os, mas se perderam muito rapidamente por entre os automóveis, por debaixo dos pés dos pedestres apressados, por entre os corpos apertados do transporte público do meio dia. Sem reação, encarou a rua com coragem. Observou atentamente detalhes que a pressa nunca a deixava ver. As moedas pesaram no bolso, um peso incômodo e repentino, como se tivessem acabado de ser colocadas ali. Os ombros pesaram a postura incorreta que ela insistia em ter, então ela se alinhou e segurou o fichário com mais firmeza. Observou os carros e pensou em quanto eles nada significavam pra ela, e sentiu um carinho maior pelo seu par de tênis velho a partir daquele instante. Pequenos detalhes de uma rotina que não poderia ter nenhum outro adjetivo além de rotineira mudaram, naquele mísero instante. Ela sentiu melhor os pés e atravessou a rua, sem olhar pra trás.

13 fevereiro 2009

O que é que a baiana tem?

Eu certamente escreveria uma poesia se fosse do meu feitio. Afinal, tais fatos mereciam ser narrados em sílabas fonéticas perfeitas, em palavras contadas, em frases pensadas. Mas, sendo eu, a representante mais árdua da hipérbole, não poderia conter os advérbios de intensidade que eu insisto em espalhar exageradamente ao longo dos períodos, só pra deixá-los mais longos e com pose de intelectuais.

Como uma belíssima contradição às minhas experiências e, ao mesmo tempo, como uma resposta tão condizente às minhas expectativas que eu nem chegava a esperar tanto, como uma resposta a tudo isso, você me trouxe as cores. Justo pra mim, que sou tão intensamente apaixonada por cores. É que cores pode ter um sentido muito amplo, mas no seu caso, foram cores mesmo. Cores que estavam tristes, aprisionadas dentro de uma caixa de lápis de cor e você as fez voar em espaçonaves e as concentrou, em imensas doses de alegria pura, bruta, completa.



Apesar de eu prestar atenção em cada detalhe do que você me diz e já saber diversas coisas sobre você, parece que ainda vai levar um tempo pra eu saber do que é que se faz essa sua alegria, do que é que você é feita, de onde é que surgem os seus jardins de pirulito. E, talvez, eu realmente nunca saiba. Mas é que tudo o que você é são tantas coisas que me parece grande demais pra ser compreendido, e talvez seja bom assim, sem saber.

Ter você no meu MSN significou novos motivos pra dar risada, mas ter você na minha vida significou ter um motivo de verdade pra sorrir diariamente. E, aconteça o que acontecer daqui pra frente, nenhum outro começo poderia ter sido melhor do que este.

E o que mais me impressiona é que pode parecer tão pouco para o mundo, mas pode parecer incrivelmente enorme pra mim. Incrivelmente enorme...

E mais uma vez o assunto de hoje: Ai, como a Fer é foda ♥

06 fevereiro 2009

A verdade sobre a magia [parte 10]

Quando Liz chegou em casa, naquele dia, desabou no sofá bege da sala de tevê. Tinha o olhar fixo, perdido e distante. Não ouviu música, não ligou o computador, não assistiu seu programa favorito. Entre os dedos, amassado, um pouco apagado e molhado com o suor da mão que o segurara com tanto ardor o dia todo, estava o melhor guardanapo de papel que ela recebera na vida. Ela o abriu e o alisou em cima da mesinha de centro. Assim o deixou, ali. Afundou as costas no encosto do sofá e o observou atentamente. Pensou em quantos guardanapos exatamente como aquele ela havia usado na cafeteria durante a vida toda e jogado todos fora depois, sem qualquer ressentimento. Eram, afinal, apenas guardanapos. Mas ela olhava pra aquele, em especial, como se fosse um diamante recém lapidado. Era a coisa mais importante que havia naquela sala, naquele momento.

O que ela sentia era um sentimento descompassado e praticamente incompreensível, que de tão insano, parecia perfeito. E, naquele momento, ela descobriu. Olhando para aquelas fibras toscas e rabiscadas de azul, ela soube: A magia e o ser humano são duas coisas que estão intimamente ligadas. Com um toque, um olhar, um gesto, o homem pode transformar completamente as coisas. Aquilo era um guardanapo, sim, mas a caneta azul de Jonas o transformou numa coisa maravilhosa, que de tão boa, ela nem podia descrever.

Ela riu de leve, colocou o papel no fundo do guarda-roupas, deitou-se e não pensou em nenhuma outra coisa até adormecer.

Sinalizar o estar de cada coisa [parte 9]

- De onde foi que você copiou isso?

Encarou-a. Engasgou com a própria saliva, mas não tossiu. Tapou a respiração - não sabia, não sabia. Estava nervoso, abriu a boca para ver se vinha algo à cabeça para falar, mas no exato momento em que o cérebro enviou uma mensagem para as cordas vocais tentarem vibrar, ela desabou na cadeira à frente dele, dizendo:

- Tá, você ganhou, é lindo.

Ficou confuso. Ainda mais do que já estava. Abriu a boca de novo, mas não pensou em nada pra dizer. Então resolveu improvisar. Tamanho desastre, pois ele mal sabia fazer as coisas sem improviso.

- Eu gosto do jeito que você prende o seu cabelo, porque ele não parece muito arrumado, mas ao mesmo tempo, se você quisesse que ele ficasse exatamente assim, levaria horas. Ele nunca é igual, não é?

Ela olhou nos olhos dele com uma expressão que não poderia significar nada além de dúvida. Observou o homem que não passava de um pequeno e inocente menino mordendo os lábios, desviando o olhar, disfarçando (coisa que, diga-se de passagem, ele não sabia fazer nada bem). Então, ela desprendeu a atenção daqueles pequenos movimentos estranhos e quase nem se lembrava mais da pergunta que ele tinha feito há um segundo. Respondeu, meio sem certeza:

- Não sei.

Seguiu-se um silêncio constrangedor, como sempre é quando as pessoas não se conhecem e não têm o que dizer uma diante da outra. Ela sentiu as faces arderem, estava tão vermelha que combinava com o tom de seus cabelos. Ela era especialista em combinar as coisas sem intenção. Ele estava em choque ainda. Não só com a forma incoerente que o enredo se desenrolava sem que ele pudesse prever, mas também com a estranheza das cores que compunham aquela cena, e, ainda por cima, combinavam. Combinavam. E não havia nada que ele pudesse fazer pra mudar isso. As cores combinavam simplesmente pelo fato de que estavam lá dispostas num momento perfeito. Descritas com sua intensidade peculiar, sem querer ser mais ou menos do que lhes cabia. Eram apenas cores, e, ainda assim, eram cores perfeitas. Traziam em seus tons quase secretos todo o calor que aquele dia proporcionava. E, se algum dia, tornasse a vê-las dispostas assim, chamaria de deja-vu e seria um dos bons, daqueles que fazem aparecer um sorriso, em que já não se lembra o porquê de sorrir, mas se desconhece qualquer motivo pra não fazê-lo.

Jonas concluiu que haveriam passado horas, dias, anos ou milênios depois de todos aqueles pensamentos que estavam passando pela cabeça, mas antes que pudesse tomar uma providência, ouviu o ruído do silêncio espatifando-se com a pergunta:

- Foi você mesmo quem escreveu? Mesmo?

Demorou a assimilar a frase, seus ouvidos não eram muito acostumados com vozes femininas.

- Sim, fui eu... Mas... eu não sei. Você me faz sentir como se eu não soubesse de nada mais. Eu não consigo explicar... Eu só preciso... Saber. Saber o que é isso. Saber quem é você... De onde você veio... E qual é a sua cor preferida... Eu preciso... Saber. Só... Pra eu me encontrar de novo.

Ela riu. Aquele sorriso largo e difícil de superar que apertava o coração do pequeno grande Jonas. Apesar disso, sentiu-se livre - se ela sorriu, era um sinal de que não era de todo mal. Estranhou as novas sensações que sentia, mas as aceitou de peito aberto, pronto a receber toda a sorte de informações que lhe fossem cedidas. Estava pronto agora, havia crescido tanto...

- Verde.


A confusão na cabeça dele se esvaiu em um segundo. Surgiu uma linha tênue entre a total clareza e o desespero. Era uma linha verde. Pensou em milhões de coisas verdes. E talvez tudo o que ele pensou transpareceu um pouco através de sua expressão esperançosa e incomum porque ela, agora, o observava com outro olhar, com outra intensidade, com outro sorriso. Com um sorriso, pelo menos.

- Enfim, comecemos pelo começo, agora que já estamos quase no meio - ela riu, já ele, demorou ainda uns três dias pra entender o que ela quis dizer com esta frase, mas depois sozinho em casa, ele riu também - Qual é o seu nome, Senhor J?

02 fevereiro 2009

Every possible mistake

I maybe wrong, I don't know why.
I maybe wrong, but I try.

I did feel like coming but I also felt like crying
And it doesn't seem so worth it right now.
And don't get me wrong, dear, in general I'm doing quite fine.

Respectivamente,
Yael Naim - New Soul (título)
Nellie McKay - Identity Theft
Regina Spektor - Summer in the city