30 dezembro 2009

Frases perdidas num mundo de gritos

Já não me canso do meu vão desejo, nem o nego - unimo-nos por completo.
- Eu não sou forte o bastante, querido.
Ainda sinto a textura daquela língua quente que me invadiu a boca. Eu quis beijar-lhe a alma e o corpo inteiro.
- Mas é pecado, não é?
Meu coração me aperta, cada músculo se dissolve em arrepios frios. Está claro: no maxilar, no estômago, no formigamento dos dedos dos pés.
- Ela tocou a minha guia, Orixá. Retrocedeu minha Boa Esperança pras Tormentas e de Gigante, cadê?
Ah, me deixa vadiar... Esquecer o que há pra fazer.
- Meu desespero é lento, pai. Minha esperança é frouxa.
A sua maciez entrelaçada na acidez que contem tudo o que me é perfeição:
- Toda vez que eu fecho os olhos te preciso, amor.
As marcas da minha oralidade no que deveria ser formal. As cicatrizes de infância e as marcas que você me deixou.
- Cadê você agora?
Na busca eterna do que é divino, Deus, seus filhos não deixam o que é céu passar como fosse nuvem?
Aos pés de Tupã desapareço no abismo que sou e que só posso ser. E sou o quê senão entregue? Sou carta? Serei lida?
- Desculpa se não há mais lágrimas embaçando a visão.
Bate no tambor com toda a sua força, nêgo. Surdo, mudo, cego, insano.
- Obrigada, amor.
Eu cheguei no mundo sem nada, hoje me pertencem meu corpo pecador, meu coração desobediente cheio de sangue e amor; e todos os meus pensamentos entorpecidos.
- Eu vou embora.
E tudo o que me pertence vai comigo.