16 junho 2010

Escrita sobre tela

Ah... Se nos meus traços coubessem a beleza dos seus detalhes, amor... Sinto uma necessidade imensa de decifrar cada traço que compõe seu corpo por completo, do mesmo jeito que aos poucos vou descobrindo reentrâncias da sua mente maluca e sempre encontro caminhos novos pra descobrir cada vez mais. Tenho certeza de que jamais descobrirei tudo sobre você e também tenho certeza de que nunca deixarei de tentar. Cada traço que desvendo é um abraço, uma proximidade, uma conquista. A cada segundo de cada dia agradeço aos meus olhos, que me permitem lhe observar o tempo todo. Você já é uma obra, meu amor. A obra perfeita e completa. Contemporânea e kitsch. Uma obra-prima da qual o tempo não é inimigo - você não se deteriora, mas se aprimora a cada dia. Pintar, desenhar ou escrever você é como aperfeiçoar uma réplica - por mais perfeita que esteja, nunca passa de uma simples réplica.

Eu me disfarço de artista, mas sou apenas sua moldura - a moldura que sua alma enorme andava procurando, uma moldura que não impõe limites espaciais e nem nenhum limite de qualquer espécie. Eu lhe enfeito enquanto cuido para que sua loucura e beleza tenham lugar neste mundo de Deus. Eu tento plagiar a natureza ao lhe representar - eu é que sou uma farsa, não é mesmo, amor? Me diz - quem é o seu autor? O céu?! A lua?!

Não conseguiria eu aprisionar suas cores numa tela, como conta Edgar Allan Poe, pois não há como amar mais a Arte do que eu amo você: Ao meu ver, você e a Arte são simplesmente a mesma coisa.

06 junho 2010

Sobra tanta falta

Já não sei mais de que servem os dias um pouco tristes sem o seu abraço pra reconfortar. Sem a sua arrumação, a bagunça já não me parece mais tão ousada, tão prazerosa e confortável. Já não me atrevo a caminhar pelos caminhos do desejo porque todo o amor que cabe em mim está enterrado em suas carnes, que andam a tantos quilômetros daqui. Já não entendo as farras, não suporto os porres. Já não vejo graça em fazer o que você me proibe sem você aqui pra me censurar. Não esbanjo vontade e não poupo casacos de lã. O colchão fica enorme sem você, as cobertas ficam mais frias e me falta algo entre os braços, entre as pernas. Faltam as conversas de todos os dias, eu querer explodir, falta minha alegria incessante de lhe ver sorrir pra mim. Falta também as conclusões precipitadas, os conceitos indefinidos, falta você pra me ajudar a esculpir pensamentos brutos. Falta você na sua própria cama, falta seu cheiro pr'eu não sentir. Já não disponho de meios pra fugir de minha proposta inicial. Falta o seu encanto, seu jeito torto de reclamar do cabelo, de encontrar feiúras onde eu só vejo beleza. Falta sua delicadeza, sua brutalidade, falta alguém pra ir na frente e me deixar andando sozinha. A pausa da vírgula se estende e a boca saliva à espera da próxima frase. O mesmo capítulo, o mesmo momento, a mesma intensidade. Já não sei aumentar nem diminuir. Condeno-me a dormir, a passar noites em claro soletrando palavras a seu respeito. Não há sofrimento, apenas saudade. Saudade boa, que eu sei que passa. Há uma pontinha de medo, um detalhe infímo entre as certezas absolutas. Minhas gargalhadas sem você não passam de meros risos. Infelicidade não é a palavra, mas é que o que é bom acostuma fácil. Já não sei seguir os dias sem você, nem concluir tarefas, é como ir trabalhar e não bater o ponto. Falta você na volta, os seus braços em volta do meu corpo, o seu carinho, os seus fios de cabelos brancos e o seu olhar.


Decidi-me, pois, que não apenas lhe quero comigo, mas lhe quero comigo todos os santos e abençoados dias da minha vida. Já não me imagino mais sem você. E nem quero.