12 outubro 2012

Eu posso ser tudo o que você quiser, eu só não posso ser sua

Você me conhece. Dos pensamentos mais leves aos meus desejos mais insanos, nada nunca foi segredo pra você. Talvez este tenha sido o nosso erro, mas abrimos nossas vidas, corações e corpos como livros ilustrados e essa entrega nos transformou em uma só - os amigos confundiam nossos nomes, mas eu realmente acho que nós também confundíamos bastante. No nosso guarda-roupa conjunto, no nosso gato preto, tudo o que era nosso ia guardando um segredo íntimo, nós experimentamos o gosto do casamento mais do que muita gente crescida por aí. Nós compartilhamos a nossa vida sem medo (se bem que sempre houve um certo medo, mas ele nunca nos impediu de seguir o caminho com certeza). Todas as minhas entranhas foram suas, e também essa parte embaixo dos seios de onde dizem que saem os sentimentos. Talvez até eu tenha aprendido isso com você, ou eu que te ensinei?

Lembre-se de quem eu sou. Eu errei e já me desculpei tantas e tantas e tantas vezes. Você sabe minhas razões e eu sei as suas. Mas lembre-se de quem eu sou agora. Como você pode acreditar que eu tenha agido em algum momento da minha vida por maldade? Você me conhece. Você esqueceu do que você via dentro do meu coração?

Eu posso até ser a pessoa mais estúpida que você conhece e é bem provável que eu realmente tenha te perdido por mérito, mas existe algo de bom aqui dentro de mim que eu sei que existe e que não vai passar nunca. Eu tenho mil coisas pra fazer e estou aqui chorando por você há horas, um fundo musical de Karina Buhr, criando uma cena nostálgica e deprimente. Estou chorando antecipadamente pelo momento que o gato vai embora de novo. Nem você e nem ele na cama, ir dormir é difícil, mas acordar é pior. É desesperador iniciar um dia sendo apenas uma, me sentindo como uma metade aleatória. Eu sei que não é isso, mas a razão nunca foi meu forte mesmo, isso você também sabe.

Eu estou te dando um tempo. Mas não é mentira quando eu te digo que fiquei feliz quando você vem buscar alguma coisa ou liga pra discutir. Lembra de quem eu sou? Minhas paixõezinhas platônicas? A forma como eu consigo ignorar tudo e te achar lindinha? Minhas ilusões? Minhas fantasias? Eu lembro sim de todos os goles de café no Aquarius, mas eu não quero que você pague pra mim dessa vez. Estou tentando viver sem você - e tá difícil demais.

Vou me obrigar a sair de novo, e vai ser divertido, sabe? Sempre é. Vou encontrar pessoas legais, viver com toda a liberdade, que era o que eu queria, mas sem você, de vez em quando, especialmente de manhã, nem isso parece ter sentido.

Volta.


20 agosto 2012

Um café expresso e meio sorriso sem açúcar

Ar limpo pra nós duas! Hoje eu estou feliz pelos aleatórios entre as opções. Você pode achar que é porque eu quero você demais, se quiser, mas na verdade é só porque eu não quero ter que refletir se eu me importo ou não.

PS.: Você fica linda de pijamas.

21 julho 2012

Cumulus Nimbus

Ligo uma música perturbadora no último volume. Procuro algo sobre o que preciso pensar. Preciso tanto pensar em tudo que não penso - há algum ponto fixo crucial perdido por aí. Crucifixo. Há uma instabilidade quando são chamados de fixos e insistem em se mover assim, dessa forma. Não deveriam ser móveis, não. Mas o são sem nos pedir. No mínimo fossem mais lentos...

A incerteza da música que me perturba é a mesma da vida - tá aí uma comparação agradável. A vida me atrai como esse som. A vida conversa comigo em dois fones: vai rodando. It's all around you. E essa minha nova mania de organização vai afetar minhas ideias também? Talvez seja realmente conveniente. Acho interessante essas notas que destoam do conjunto, apesar disso. A opção pode ser criar uma organização própria, com um sentido que fuja do compreensível pr'outros olhos que não os meus. Talvez assim a liberdade me alcance. Ela vem me perseguindo, mas está sempre alguns passos atrás. Eu forço tentativas para desacelerar, mas ela não me alcança, quando eu olho para a direita, ela está a minha esquerda e vice-versa, mas a harpa é só um piano pelado.

Eu nunca tenho certeza em qual parte da respiração eu sinto mais forte essa coisa no peito. Será que eu aguento mais um pouco? Posso tirar um fone? Nessa faixa não me parece mais tão romântico a música ser a vida. Mas daí começa outra. Eu gosto demais daquela caneta verde, mas eu preciso de mais materiais pra fazer alguma coisa boa de verdade. Eu quero um estojo bem servido! Quero ter todos os tipos, de todos os tamanhos, quero a delícia do que está tocando agora tocando os papéis. Essas traduções semióticas não são lá muito revolucionárias. Na verdade, nunca consegue ir além do repetitivo. O que eu quero mesmo é usar uma expressão e um conteúdo completamente diferentes e despertar o mesmo sentimento em quem recebe a informação. Eu quero que esse barulho me invada.

É preciso que se entenda: tudo isso estava adormecido. E sem perceber eu comecei a procurar desesperadamente pelo que estava errado e foi então que a encontrei, não para resolver, mas para embaralhar a situação deliciosamente. Chegou em 1080, ludibriando a tecnologia e a ignorância com notas de genialidade. Acúmulo de informações bizarras concentradas num fenômeno audiovisual. Cumulus Nimbus, uma nuvem. Hoje tudo está fazendo um sentido insano dentro da minha mente. Tirou a materialidade da minha cor e me deixou uma sensação de ter pisado em falso. A dúvida entre gostar ou não me faz querer tirar todas as provas. E isso é insanamente carnal. Um olhar infinito, quase impuro, interminável. Toda essa reflexão sobre o espaço que eu tenho procurado me inserir tem um quê de familiar. Percebo o quanto esses pensamentos andaram afastados de mim - antes eram tão cíclicos e contínuos... A certeza é uma só: de que alguma coisa foi esquecida pelo caminho.

Aqui é a hora daquele café passado sem açúcar. Para os inteligentes as coisas são claras. Tudo o que ele mostra tem um cheiro do que eu quero pra mim. Não é nem a classe, nem a graça, estes são tão óbvios, há um ponto mais. E de repente uma ficha cai, dura, bate metálica no chão de cimento queimado.

Onde é que eu estive esse tempo todo? Vou me vestir de novo de mim. Eu terei de me perdoar, foi muito tempo esquecido. Agora tudo parece tão leve novamente que minha vontade é deitar naquela nuvem macia, poder usá-la de travesseiro, abraçar e colocar entre as pernas.


Declare Independence, don't let them do that to you!

11 julho 2012

Sofá-cama-criado-mundo

Ares, sofás e sentimentos compartilhados. Pequenos vestígios de diversas coisas não-ditas começam a se desprender da parede do estômago, me fazendo confundir gastrite, ansiedade e paixão. É só eu pensar em problematizar que todas as respostas aparecem claras na minha frente - são apenas chaveiros diferentes para as mesmas chaves. Eu abri a janela do seu quarto hoje pra deixar ventilar as paisagens e retratos. Nós estamos de braços abertos, esperando só o que é bom chegar. Na verdade, a gente se contenta com pouco - o mundo é o seu sofá e dois, pra nós, já é uma roda.

11 abril 2012

Antes e depois

Todos precisam de um caderninho pra anotar coisas - aquele pensamento que por um segundo quase foge da mente, aquela imagem que repentinamente se forma frente aos olhos. É um tênue momento entre perder ou guardar tudo isso para outros momentos, em que eles possam grudar na memória com mais firmeza.

Você diz que eu sempre fujo das coisas, mas acho que não gosto de fugas - pelo menos das físicas. A ausência é mais forte. A ausência é a violência mais bruta que você pode me dar - uma ferida neutra, sem cor, que causa uma dor que não age, paraliza. Estar sozinho é um processo.

Nestes (e nos outros) momentos muita coisa acontece. São gotas que batem nos telhados, vozes que conversam na rua, o som da geladeira simplesmente gelando, barulhos que ecoam na minha cabeça, me dão vontade de mijar. Frio na barriga: úmido.

A música segue tocando, como se nada tivesse acontecido. É, eu realmente precisava quebrar alguma coisa. Imaginária ou tocável, inteira ela não cabia em mim mais. Talvez eu tenha emagrecido um pouco mais. Faria diferença?

É como a Leila dizia: cuidado com a subjetividade... mas eu não soube fugir. E olha que neste momento uma fugazinha não faria mal a ninguém.

Quer saber? Desta vez eu vou ficar. Vou esperar você voltar, pra eu provar pra mim mesma (ou pra nós duas) que você é capaz disso sozinha. Que você vai escolher sem que eu tenha que pedir.

Enquanto isso, reações químicas continuando agindo no meu corpo. Mas quando você retorna, algo fica diferente. Um diferente igual. O quê?