29 julho 2007

Simples, assim [parte 1]

Jonas tinha 25 anos, mas para ele pouco importavam os anos, tinha se acostumado a viver os dias, os minutos, os segundos. Era feliz do jeito que sabia, simplesmente por nunca ter questionado ou duvidado de sua própria felicidade. Não que fosse muito bonito fisicamente, mas era excêntrico e encantador, pouco falava. Às vezes, passava o dia todo sem falar nenhuma palavra, olhava o movimento com a curiosidade de uma criança de dois anos. Sorria o tempo todo, sua boca fora feita para sorrir e isso o enriquecia. Ficava tão bonito quando sorria! Ele gostava das cores, gostava muito das cores. As primárias eram as que mais o agradavam. Ele gostava das pessoas também, de algumas. Gostava de vê-las falando, olhava... Gostava de água, de desenho, de calor e de frio também. Era infantil e maduro. Era uma contradição inteligente e fascinante... Incompreensível... Não sei dizer.


13 julho 2007

Até no seu silêncio existem razões (o meu amor incondicional por Clarice Lispector)

Não sei se é exatamente o abismo do silêncio que ecoa que me traz tanta angústia. Eu sinceramente esperava que você jogasse o cabelo curto pra trás, ficasse de pé e falasse alto, e falasse muito. Você já me fez sorrir, já me fez chorar, suas palavras já me causaram emoções das mais diversas e acho que eu esperava vê-las, pelo menos em parte, em você. Eu procuro entre os seus problemas de dicção e seus sotaques as suas palavras, mas elas são poucas, vazias, curtas, frias e enigmáticas. Seus olhos querem estrangular aquele repórter (ou será que você é assim mesmo o tempo todo?) e por vezes no tom de voz dele é possível sentir um alto teor de reciprocidade. De onde vem toda essa coisa de ser contida? Suas peças de roupa não ornam, jogada naquele sofá velho e marrom de 1977. Você não sabe, não quer dizer e a sua novela tem mais de treze títulos! Eu ainda não consigo definir o que eu senti vendo você ali... As suas palavras não têm pudor, não são medidas na intensidade. Você insiste em falar ao mesmo tempo que o entrevistador e depois o encara no silêncio e o obriga a quebrar o vazio com a próxima pergunta. Logo. Você ama os seus filhos e diz que só está triste hoje por causa do cansaço, mas eu só vi o seu sorriso uma única vez em uma foto ainda. Embebeda-me o desejo de lhe abraçar bem forte, de lhe dizer como o seu mundo é completo, como a sua alma é enorme, da sua grandeza! Quantas vezes mesmo você morreu? Tolinha, não morreu nenhuma! Você é imortal, você vive nos seus livros, você vive nas pessoas, você vive em cada lágrima e em cada suspiro de seus árduos ou desleixados leitores, a sua Hora da Estrela chegou e ela não tem mais treze títulos! Eu acredito em você e pra mim você existe. Não é assim que funciona? Pra sempre. Eu queria plantar um sorriso no seu rosto lindo... Lindo! E segurar a sua mão enorme. Eu queria tentar desmanchar a sua certeza de que todo adulto é solitário. Pense duas vezes, meu bem: Quando você me traduz seu coração em uma dúzia de palavras, eu sinto que eu entendo a sua alma, eu vejo você. Talvez nós não sejamos tão diferentes: veja todas essas emoções que compartilhamos, você não está sozinha!!!

Eu desejo o impossível, sei disso. Compreendo o quanto é impossível, mas não consigo repreender o meu impulso de desejá-lo. E de tão tolo, mesquinho e impulsivo, o meu coração só consegue aumentar o meu desejo. Desejo olhar nos seus olhos, conhecer a sua intensidade com meus próprios sentidos. Ninguém melhor que você sabe que Ver é a pura loucura do corpo. E eu mais do que ninguém sei que loucura alguma me falta.

Se fosse qualquer outra pessoa o meu instinto implicante poderia pensar em reclamar. Mas é você... e... eu não consigo. Você se deixa ser, se deixa dizer de uma forma tão completa que eu não sei. Nem mesmo esse seus modos contidos, que em outras ocasiões me decepcionariam, coseguiram me chatear: eu, com todo o meu coração e compreensão, vejo a sua excentricidade claramente escondida neles. E do que eu haveria de me queixar? Não é essa angústia que você me traz que faz com que eu lhe idolatre com tamanha intensidade? Não é esse seu jeito quieto que me fez assistir todos aquelas dezenas de minutos de vídeo? Eu nem gosto de entrevistas! Não é você, Clarice? Não é você? Sendo você, ai Deus: Já é mais do que eu posso pedir, já é mais do que o bastante. Tantas são as suas definições... Se compreender-lhe é uma questão de tocar ou não tocar, eu nem sequer preciso ler seus textos para compreendê-los: eles tocam o meu âmago só de ver o seu nome em baixo. Depois que eu leio é indescritível. Todos. Eu amo você com todas as letras, Clarice Lispector. Com todas as palavras, com todas as expressões. E, oras, Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós.

Então vem um esdrúxulo qualquer me perguntar pra quê fazer uma declaração de amor pra uma mulher que nunca irá ler. Não me dá vontade de responder, minha vontade é escrever mais. Daí da sua estrela, Clarice, do seu lugar, do seu céu, você verá as minhas palavras? Você sentirá ao menos parte da minha emoção? Enfim encontro uma causa justa pra minha luta: Incondicional é algo que não possui condições. E meu amor por você é incondicional. Só. Escreverei inúmeras palavras, descreverei de inúmeras maneiras. Pra saciar minha própria vontade. Minha própria loucura. Minha própria saudade.

Deixe-me dizer só mais uma vez, me faz bem e não faz mal a ninguém mais: eu amo você, Clarice.

Com todas as minhas forças.







03 julho 2007

Trechos importantes de conversas desnecessárias

Havia duas meninas sorridentes numa perua que pulava mais do que aqueles jipes em trilhas, mas mesmo assim elas estava felizes porque uma das meninas (a que estava sentada na janela com a trava quebrada) tinha um aparelho que tocava músicas e, no dia anterior, ela havia renovado o estoque. Elas estavam cantando e dançando (apesar da reprovação geral dos companheiros) ao som de Fiona Apple. Nada as deixava mais felizes do que ouvir aquela bêbada cantando to you love to your love loucamente. Então, do nada, a menina da janela parou e olhou para a outra, que cantou por mais alguns segundos e depois parou também. A menina da janela não se conteve mais e falou:

- Sabe? Eu amo a Gabriela demais.
- Na verdade eu já sei sim, der! E você também já sabe que eu também. E muito!
- É esse cd, só pode!
- É!!! Muito! Lembra muito ela.
- Se um dia me perguntarem quem foi a paixão da minha adolescência eu vou responder que foi a Gabi.
- AHAHAHAHAHHAAHHA.



Depois disso elas mudaram de assunto.