
É que palavras são como peixes. Pra gritar, no meio do alvoroço, elas fogem, nadam, lisas, escorregam por entre os dedos, língua, dentes. Elas mordem a isca em momentos calmos, com leveza, elas, enfim, mordem a isca. Com paciência e concentração, podem ser saboreadas cuidadosamente, como peixes.
Mas momentos como este não são de palavras, nem de peixes. São momentos-aves, instantes alados. Contenha-se, menina. Rasga o céu em dois a alma, dividindo tudo o que é materia do que é sentir, filtrando, decantando, cantando alto. Palavras ecoam sem sentido e os significados parecem hiperbólicos, exponenciais.
Em momentos como este, só há felicidade, sorrisos largos e frios na barriga. E tudo o que é além não tem serventia. Tudo o que é além vem à tona pra separar esta mistura. Tudo o que é além é aquém. E a quem? Não a mim, porque a mim - isto basta.