19 abril 2008

Um pouco mais de sinestesia, um pouco menos particular - a continuação da história de Jonas [parte 3]

Ainda no ônibus Jonas não fazia idéia de para onde aquelas ruas (ou o destino, se preferir uma visão mais poética) o levariam, sequer sabia se gostaria de ir - acabara de notar uma série de coisas que desconhecia, o que destruída em parte sua fantasia e o derrubava numa realidade de concreto, que de tão hipotética, fria e inanimada, fazia doer. Sentia-se cru, insano, insensato e inocente. A desconexão de pensamentos despertou uma raiva incoerente e generalizada que o fez franzir o cenho. Engoliu seco, sentindo pela primeira vez na vida, a insatisfação e a completa falta de liberdade em ser e toda a limitação que isto traz. Como conseqüencia óbvia, já não sorria há vários minutos, por isso já não parecia nem tão bonito, nem tão encantador.

Deixou-se quieto um instante, respirando. Esqueceu. Até tentou olhar, sentir e ouvir a verdade cimentada em sua frente, mas não pôde - ainda não sabia que precisava de óculos. Deixou ficar a cicatriz do que agora sabia e voltou a ser quem sempre foi. Talvez agora com tal fio de cabelo branco entre seus tantos. Sorriu e sentiu-se leve de novo. Pensou naquela garota de outro jeito, com outros ares e se apaixounou pelo que imaginou. Aquele cabelo mal-preso... imaginou que ela certamente não seria a mocinha numa história - ele odiava as mocinhas. Até que tentou pensar em não vê-la novamente, mas se esforçou daquele jeito frouxo, de quem faz só pra não poder dizer que não fez. Sabia que seria difícil encontrá-la, falar com ela talvez fosse difícil demais pra ele... sabia, mas não pôde deixar de enfrentar o que estava por vir, mais uma vez. Sentiu-se forte e corajoso por não fugir. Era uma certa vitória antes mesmo de ser.

Afastou os pensamentos porque começou a ficar com medo, as pernas tremiam e a barriga gelava - não se contia. Levantou-se abruptamente, deu sinal pra descer. E desceu, pisou na calçada com seu All Star bege, sentindo as pedras do chão de um lugar desconhecido e era, sim, aquele novo caminho de uma vida completamente desorientada que Jonas queria trilhar.

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