25 outubro 2009

And nothing else compares

A música é um passo pra completa insanidade. Quando ela invade os nossos ouvidos, o sentimento se une ao físico e nós nos tornamos seres entregues, completamente preenchidos por acordes que nem sequer sabemos quais são. Nos cinco minutos enquanto vibram nossos tímpanos, são os cinco minutos mais perfeitos de nossas vidas, durante os quais nada nos falta. Nossos sentidos se entregam a falta de razão, nossos atos os seguem, inertes. Tornamo-nos uma massa compacta, complexa, desconhecida, concentrada. A música nos faz ser uma coisa apenas, dentro da qual cabe tudo o que se existe pra ser. A música expõe nossos corpos ao delírio. Ela faz de mim o que eu sou, e faz de mim o que ela bem quer. Meus cinco minutos de completa inércia a você, querida, vão se prolongando e tornando-se horas, dias, meses, vidas. De minutos em minutos em que o meu corpo é seu, meus atos e meu pensamento, completamente absortos em suas entranhas, entrando aos poucos pelas minhas.

07 outubro 2009

It's a mess but it's workin'

Em um belo dia de calor, assisti O Fabuloso Destino de Amelie Poulain e fiz uma descoberta. Uma grande mudança na minha vida, os sorrisos brotaram com a facilidade de um matinho frouxo que se arruma em qualquer canto de calçada. Por muito tempo, essa descoberta me bastou. Meus dias foram completos por ela, em todas as lacunas, lá estava.

Mas quanta coisa há no mundo? Entre todas as coisas que existem, quantas? E de um modo franco, o mundo foi abrindo seus ramificados caminhos a minha frente, tudo eu desconhecia. Minhas fantasias coloridas e perfeitas foram desabando, me ferindo internamente com seus tijolos pesados. A descontrução me desconcertou. Encontrei-me novamente, em pedaços, desconexa. A fé em minha antiga descoberta brilhava quase sem luz e ia se apagando gradativamente. Ela era o que antes me unia: a cola que juntava o que havia por dentro com o exterior de mim.

Antes de me perder completamente, porém, por sorte, conheci Leónie. Entre uma página amarelada e outra, o naturalismo me abriu a mente para o ideal Amelie Poulain mesmo entre as relações mais animalescas. No desejo natural, no instinto, na realidade dura e complexa, existe um ideal de felicidade também. Foi tão simples: minha descoberta estava reestruturada. Enterrada no cimento das realidades concretas também é possível encontrar quase as mesmas deveras felicidades de outrora.

É aí que entra a minha visão da semelhança incrível entre Leónie e Amelie - ambas, através dos séculos libertando as pessoas de suas vidas medíocres e trazendo a felicidade, seja como for. Quando eu crescer, aprenderei a ser como elas. Escrevam o que digo!