18 julho 2009

Passa devagar pr'eu te olhar

Não sei se foi o seu nome, se foi a cor do seu cabelo ou o fato de eu não poder ver suas fotos: sempre houve um pensamento em mim que fosse todo seu. Antes, ele era fraco, simples, comum, uma curiosidade, um interesse, eu queria saber quem é você. Eu queria descobrir do que foi que lhe fizeram. De que matéria? De quê? De queijo?

Cultivei meu pensamento, mas ele não deu frutos. Desisti dele, deixei guardado em algum lugar escondido em mim, mas você não apareceu. Por muito tempo, não houveram notícias suas e eu esqueci de me lembrar do meu pensamento. Mas ele permaneceu, imóvel, intacto.

Daí você apareceu. Assim mesmo, do nada, num momento em que eu não estava esperando, você apareceu. Um coincidência catastrófica - em outros tempos eu estaria esperando que você aparecesse, mas não neste momento. Estava completamente desprevinida e uma felicidade espontânea e imensa me atingiu em cheio - era o meu pensamento, voltando com toda a força. Ver você foi o auge do meu platonismo - em cada detalhe seu, eu vi um pedaço de desejo. Em cada palavra sua eu silabicamente me encantava e tentava desesperadamente disfarçar a minha cara de besta, enquanto você mexia ininterruptamente na boca e eu secretamente desejava que em vez de você fosse eu mexendo nela.

É uma afronta ao meu imenso platonismo você gostar de mim também. Você tem alimentado o meu pensamento e ele cresce em escalas exponenciais, mais do que nunca. Eu tenho medo, medo de tudo, medo desse tudo não dar em nada - e esse medo louco talvez seja a melhor parte. Sagitarianos gostam dessas aventuras, não é mesmo?

Tudo o que eu sei sobre você só me faz pensar no quanto eu não sei quase nada ainda e no quanto eu quero conhecer todas as partes que existem em você e todas as histórias malucas que você tem pra contar. O meu pensamento já tomou conta de mim - eu só penso em você. E em todas as possibilidades remotas dessa história que tem um milhão de chances de ser incrível. O não saber me deixa muito ansiosa, e repleta de uma felicidade imeeeensa que me faz olhar aquela minha foto preferida o tempo todo.

Eu sei que você pertence ao mundo, mas eu tenho apenas a pretenção de pertencer a você.

Ai, volta logo?

12 julho 2009

Sobre morder a mão

Morder a mão é um gesto que compreende algo um pouco além do simples ato de colocar a a mão na boca e apertar os dentes contra ela. No momento exato de morder a mão, as atividades metabólicas do corpo se confundem, é alguma coisa na barriga, que mixa diversos sentimentos e gera uma inexplicável sensação que às vezes parece fria, às vezes quente. E há uma certa dormência nas pernas e nos braços, uma coisa estranha na garganta e um formigamento no maxilar.

É um quadro clínico complicado, não existe profilaxia certa e a única forma de tratamento é fincar os dentes fortemente na mão fechada, até deixar marcas.

08 julho 2009

Inexpressão de inexistência

Eu não sei ser. Fazer é fácil, eu faço, falo, ajo; mas o que eu diria sobre mim? Supostamente, dizer é fácil, mas eu me perco nas entrelinhas do fazer fazer fazer e acabo não guardando pra mim mesma muitas palavras. E olha que eu sou uma grande fã das palavras - eu as cultivo, as cultuo; mas as disperdiço. Eu me entrego, eu não nego, eu vou de corpo inteiro, compartilho minha alma toda, o coração na boca, na mão. Quais palavras restaram pra mim?

Dissertar ou narrar sentimentos não os enfraquece. Eu acreditava que poderia liberá-los de mim dizendo sobre eles tudo o que fosse possível, mas me enganei - quanto mais palavras eles possuem, mais veracidade, mais força, mais garra. E quanto a mim? Eu, que não possuo palavras? Em volta dos meus verbos não se organizam frases. Nos dias de hoje, o que não é documentado simplesmente não existe. Eu posso existir? Sem palavras, sem frases, sem nada? Serei uma gravura, uma cor? O verbo ser me cabe? Dêem-me esta palavra, só esta, ao menos.

Os sentimentos consomem minhas palavras como um imenso buraco negro: quanto mais palavras eu conheça, mais ele as quer. Eu as entrego, com o coração aberto, sem duvidar de suas cruéis intenções destrutivas, mas quando me faltam as palavras, o frio da inexistência me toca a pele, sensibilizando nervos do meu corpo que eu nem desconfiava que existissem. E existem? Ou não?

Não ser escrita é uma sensação literária de uma tendência ultra romântica de morrer de amor. Na realidade, não é morte, o infeliz há de se contentar em continuar vivo - sobrevivendo como um ser inanimado, sem palavras, sem verbos, sem adjetivos e sem onomatopéias. Inexpressivo.

Como me deixei levar?
J
usto eu, que sempre preferi os naturalistas...