06 fevereiro 2009

Sinalizar o estar de cada coisa [parte 9]

- De onde foi que você copiou isso?

Encarou-a. Engasgou com a própria saliva, mas não tossiu. Tapou a respiração - não sabia, não sabia. Estava nervoso, abriu a boca para ver se vinha algo à cabeça para falar, mas no exato momento em que o cérebro enviou uma mensagem para as cordas vocais tentarem vibrar, ela desabou na cadeira à frente dele, dizendo:

- Tá, você ganhou, é lindo.

Ficou confuso. Ainda mais do que já estava. Abriu a boca de novo, mas não pensou em nada pra dizer. Então resolveu improvisar. Tamanho desastre, pois ele mal sabia fazer as coisas sem improviso.

- Eu gosto do jeito que você prende o seu cabelo, porque ele não parece muito arrumado, mas ao mesmo tempo, se você quisesse que ele ficasse exatamente assim, levaria horas. Ele nunca é igual, não é?

Ela olhou nos olhos dele com uma expressão que não poderia significar nada além de dúvida. Observou o homem que não passava de um pequeno e inocente menino mordendo os lábios, desviando o olhar, disfarçando (coisa que, diga-se de passagem, ele não sabia fazer nada bem). Então, ela desprendeu a atenção daqueles pequenos movimentos estranhos e quase nem se lembrava mais da pergunta que ele tinha feito há um segundo. Respondeu, meio sem certeza:

- Não sei.

Seguiu-se um silêncio constrangedor, como sempre é quando as pessoas não se conhecem e não têm o que dizer uma diante da outra. Ela sentiu as faces arderem, estava tão vermelha que combinava com o tom de seus cabelos. Ela era especialista em combinar as coisas sem intenção. Ele estava em choque ainda. Não só com a forma incoerente que o enredo se desenrolava sem que ele pudesse prever, mas também com a estranheza das cores que compunham aquela cena, e, ainda por cima, combinavam. Combinavam. E não havia nada que ele pudesse fazer pra mudar isso. As cores combinavam simplesmente pelo fato de que estavam lá dispostas num momento perfeito. Descritas com sua intensidade peculiar, sem querer ser mais ou menos do que lhes cabia. Eram apenas cores, e, ainda assim, eram cores perfeitas. Traziam em seus tons quase secretos todo o calor que aquele dia proporcionava. E, se algum dia, tornasse a vê-las dispostas assim, chamaria de deja-vu e seria um dos bons, daqueles que fazem aparecer um sorriso, em que já não se lembra o porquê de sorrir, mas se desconhece qualquer motivo pra não fazê-lo.

Jonas concluiu que haveriam passado horas, dias, anos ou milênios depois de todos aqueles pensamentos que estavam passando pela cabeça, mas antes que pudesse tomar uma providência, ouviu o ruído do silêncio espatifando-se com a pergunta:

- Foi você mesmo quem escreveu? Mesmo?

Demorou a assimilar a frase, seus ouvidos não eram muito acostumados com vozes femininas.

- Sim, fui eu... Mas... eu não sei. Você me faz sentir como se eu não soubesse de nada mais. Eu não consigo explicar... Eu só preciso... Saber. Saber o que é isso. Saber quem é você... De onde você veio... E qual é a sua cor preferida... Eu preciso... Saber. Só... Pra eu me encontrar de novo.

Ela riu. Aquele sorriso largo e difícil de superar que apertava o coração do pequeno grande Jonas. Apesar disso, sentiu-se livre - se ela sorriu, era um sinal de que não era de todo mal. Estranhou as novas sensações que sentia, mas as aceitou de peito aberto, pronto a receber toda a sorte de informações que lhe fossem cedidas. Estava pronto agora, havia crescido tanto...

- Verde.


A confusão na cabeça dele se esvaiu em um segundo. Surgiu uma linha tênue entre a total clareza e o desespero. Era uma linha verde. Pensou em milhões de coisas verdes. E talvez tudo o que ele pensou transpareceu um pouco através de sua expressão esperançosa e incomum porque ela, agora, o observava com outro olhar, com outra intensidade, com outro sorriso. Com um sorriso, pelo menos.

- Enfim, comecemos pelo começo, agora que já estamos quase no meio - ela riu, já ele, demorou ainda uns três dias pra entender o que ela quis dizer com esta frase, mas depois sozinho em casa, ele riu também - Qual é o seu nome, Senhor J?

3 comentários:

fer. disse...

chego a ter raiva de você. As mudanças ficaram mais que excelentes, eu amei. Agora sim deu a entender que eles se gostaram de primeiro, mas mesmo assim nao foi tão precipitado. Ai Camila, se voce não existisse, eu te inventava, como diria minha tataravó (?)

Mariana R. disse...

É, eu fiquei comparando as histórias. E você conseguiu deixa-la ainda melhor!
E eu concordo com a Fer, que se você não existisse, era preciso te inventar :)

má straci disse...

é estupendo, como eu disse.
a parte lá que eu te mostrei já tinha , mas eu fiquei muito maravilhada com ela de novo. sei lá, muito perfeito.